A série Revelations, spin-offs de Resident Evil, surpreendeu na sua proposta e mesmo após 8 anos continua surpreendendo. Neste texto, irei retomar algumas anotações que fiz durante as minhas jogatinas de Resident Evil Revelations 2 e -RE- avaliar este que, por muitos anos, considerei um dos títulos mais irritantes.
O Resident Evil Revelations (2012) conquistou a admiração do público e da crítica, inclusive a minha, pelo retorno às origens com corredores claustrofóbicos, inimigos criativos, arquitetura “George Trevor” e uma excelente história de bioterrorismo, além de driblar as limitações técnicas do console de lançamento original, o Nintendo 3DS. Estava completamente apaixonado pelo universo apresentado.
Três anos mais tarde, o segundo Resident Evil Revelations chegou em formato episódico para os consoles de mesa e computador. E não vou negar que um gosto amargo ficou na boca. Dessa vez, tínhamos Claire Redfield e Barry Burton, dois veteranos da série e que não davam as caras há muito tempo nos jogos da franquia. Estava empolgado demais até assistir o material promocional com os trailers e as gameplays.
Ao meu ver, o material apresentado não tinha polimento e nem cara de jogo cross-gen, pois tudo parecia meio mal acabado e estranho. É preciso lembrar que naquela época, há pouco tempo, tivemos o belíssimo “The Last of Us” para o PlayStation 3, demonstrando todo o potencial do console. Mas como fã, ignorei a percepção inicial e tive a minha experiência… e o gosto amargo na boca ficou. Não havia gostado do jogo.
E nada como o tempo, o amadurecimento, a metamorfose. Para quem conhece Revelations 2 sabe que as obras de Franz Kafka, autor e romancista tcheco, são a grande fonte de inspiração para o enredo e as licenças poéticas do jogo. Brutalidade física e psicológica, disputa de poder entre classes e transformações corporais são temas que Kafka aborda e que o roteirista, Hiroshi Yamashita, toma emprestado para contar a história de Alex Wesker. Assim como a vilã que precisou de tempo para amadurecer os seus planos e pesquisas, eu precisei também mudar a minha percepção a respeito do jogo.
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AMADURECIMENTO E METAMORFOSE
Passados quase oito anos desde o seu lançamento, recentemente, em novembro de 2022, recomecei do zero o Resident Evil Revelations 2 e posso dizer que aquele incômodo gráfico não existia tanto como antes. Aliás, depois de alguns minutos, nem me importava mais com isso. Sinto que, na época de seu lançamento, estava muito esperançoso com as possibilidades que os novos motores gráficos pudessem oferecer e, passado todo este tempo, percebo que todas as minhas melhores experiências vieram de jogos que não possuem aquela qualidade gráfica toda. O amadurecimento como jogador e como pessoa me fizeram retornar para o que realmente interessava naquele momento: a jogabilidade, a atmosfera e a história.
E sim, a jogabilidade de Revelations tem alguns problemas, mas nada que possa ser considerado um horror ou terrível. O processo de troca de personagens é ágil e eficiente, além de proporcionar momentos criativos durante os combates. Nesta última jogatina, eu cansei de usar a lanterna de Moira Burton como distração e explorar a Claire como uma verdadeira Exterminador T-800. Além disso, apesar de ser mais chatinho, Barry e Natalia Korda proporcionam o mesmo nível de criatividade.
A árvore de habilidades e aprendizado foi algo que também me surpreendeu, pois confesso que não sou muito fã desse tipo de progressão em jogos de Resident Evil e, ao retomar e usar os pontos para liberar as habilidades, o meu gameplay cresceu demais, fazendo que o ‘fator replay’ se multiplicassem. Reitero, ainda continuo não gostando da árvore, mas funciona muito melhor do que em Resident Evil 6, por exemplo.
Outro fator que me surpreendeu (novamente) foi a atmosfera e a história. Os dois primeiros capítulos, “A Colônia Penal” e “Contemplação“, são excelentes em sua proposta e enredo. Explorar a prisão, o vilarejo e a cidade faz com que você deseje aquilo cada vez mais. Foi como explorar uma Mansão Spencer ou uma Raccoon City pela primeira vez. E ao refletir, fiquei me perguntando o porquê de não ter dado valor a isso na primeira vez. Claro, existem outros fatores que fazem com que a atmosfera seja atingida, mas os detalhes e o enredo do jogo brilham. Veja o trailer conceito e sinta a atmosfera aterrorizante:
Por fim, me pergunto novamente, “por que não gostei da primeira vez?”. Acredito que faltou um pouco de maturidade e pé no chão para receber Resident Evil Revelations 2. Diante a tantas promessas feitas em 2015, eu esperava um jogo tripleway, mesmo sendo um título de baixo orçamento, com cinemáticas incríveis e só. Percebo o quão limitado era em pensar que apenas jogos com esse primor teriam a minha verdadeira atenção. No final, eu era o fã irritante.
Após oito anos, Resident Evil Revelations 2 se consolida como um dos títulos mais equilibrados da franquia, pois consegue misturar o melhor de dois momentos da série, o enredo e a inventividade dos clássicos e a gameplay e combate dos “Over the Shoulder”. Em meio a remakes, reimaginações, vampiros e lobisomens, Revelations 2 é o último suspiro do que já era e foi a franquia Resident Evil.
Colaborou com a revisão deste conteúdo: Natália Sampaio