No final de março, noticiamos o anúncio do documentário e o lançamento do teaser trailer de “George A. Romero’s Resident Evil: A Documentary“. O material contará a história que existe por trás do roteiro da primeira adaptação de Resident Evil para os cinemas.
Passados dois meses, o diretor do documentário, Brandon Salisbury, contou com exclusividade para o REVIL detalhes da produção que promete utilizar filmagens arquivadas, documentos oficiais e entrevistas recém-filmadas para contar essa história e revelar ao público “o dia mais sombrio do terror que o mundo nunca conhecerá”.
Caso você não saiba do que estamos falando, vai aqui um contexto geral. A produtora e detentora dos direitos da adaptação da série Resident Evil, a Constantin Film, contratou um dos mestres do terror do cinema da época para roteirizar e dirigir o primeiro projeto da franquia. Estamos falando de George A. Romero, um dos mais cultuados e lendários diretores do gênero horror e zumbi de todos os tempos. Contudo, o projeto foi engavetado e a sua participação cortada.
Anos mais tarde, uma versão do roteiro chegou à internet e diversos fãs da franquia – e do diretor – ficam imaginando como seria a série no cinema caso o filme de Romero tivesse sido lançado.
Agora que contextualizamos, vamos à entrevista. Ao todo, Brandon respondeu 10 perguntas, sendo algumas sobre videogames, carreira e, claro, o seu trabalho. Agradecemos ao Brandon Salisbury pela atenção com a nossa equipe. Então vamos lá!
Parte 1
REVIL: Primeiramente, obrigado por aceitar em conversa com o REVIL. Estamos muito felizes com a oportunidade. Brandon, você é produtor, roteirista e diretor. Conte um pouco sobre a sua história com o cinema. Quando surgiu esse interesse? Como foi criada a Key 13 Films?
BRANDON: Olá pessoal, sou Brandon Salisbury, diretor do documentário de “George A. Romero’s Resident Evil: A Documentary”, e gostaria de agradecer a todos pela oportunidade de responder essas perguntas.
Senti a vontade de ser um cineasta pela primeira vez em 1993. Assisti ao primeiro Jurassic Park e fiquei fascinado, este foi o meu primeiro entendimento de como os filmes são feitos, e isso continuou ao longo dos anos. Assistia vários programas que falavam sobre efeitos especiais e técnicas de filmagem, tanto que me recordo de assistir algum “Por Trás das Câmeras” de “À Beira da Loucura”, de John Carpenter, e Godzilla, Já tinha interesse mas, não tinha entendido que era a carreira que eu desejava para mim.
No ano 2000, assisti “Madrugada dos Mortos” e o remake de “Noite dos Mortos Vivos” de Tom Savini, naquele momento eu pensei, “Quer saber, vou me tornar um cineasta. Verei todos aqueles filmes que George A. Romero fez”. Na manhã seguinte, falei em voz alta que iria dirigir filmes.
REVIL: Em nossa troca de e-mails, você disse gostar também de Street Fighter. Quais outros jogos você gosta? E qual deles você escolheria para fazer outro documentário?
BRANDON: Eu sou meio iniciante em Street Fighter, mas me apaixonei quando joguei um pouco ainda criança. O Street Fighter 2 estava em todas as plataformas nos anos 90, mas só virei fã quando saiu o “Street Fighter: Punhos Assassinos” de 2014. Assistir o filme foi como ver uma interpretação dos fãs dos jogos e isso mostrou o quanto uma história pode ser emocionante.
Estou de olho em Street Fighter 6, para que eu possa me dedicar a um jogo novo no lançamento e aprender como funciona tudo. Já os demais jogos, não estou me dedicando a nenhuma série mais porque um dos problemas, pelo menos comigo, é que gosto de tipos muito específicos de experiências.
Eu gosto muito de Final Fantasy e jogos de Super Nintendo e PlayStation. Eu amo “Final Fantasy 7”, o original, e “Final Fantasy 8”. Gosto de “Castlevania: Symphony of the Night”, esse é um daqueles jogos nota 10 em 10. Tem Metal Gear, eu amo os jogos de Metal Gear Solid. Amo “Silent Hill”, “Clock Tower” e outros, Dino Crisis e Alone in the Dark: New Nightmare.
Comecei com os jogos da Nintendo, mas tive um ou dois Sega Genesis. Continuei jogando Super Nintendo, mas o Sony PlayStation, o original, foi onde me aprofundei por muitos clássicos. Então, cresci jogando e me apaixonei.
Se eu faria outros documentários? Honestamente, não sei. Não me vejo como um diretor de documentários. Na verdade, uma das coisas que quero para este projeto é que ele não fosse apenas um vídeo típico de YouTube, ou aqueles documentários onde as pessoas falam mostrando imagens de arquivos e coisas do tipo. Nós queremos fazer algo mais criativo e diferente, que possa capturar a atenção das pessoas.
Penso que quando as pessoas vissem o teaser trailer, a apresentação dele, teria que ser muito mais do que “pessoas assistindo um documentário”. Se eu fosse fazer outro documentário sobre videogames, provavelmente faria algo sobre Mortal Kombat. Faria algo sobre suas origens. Honestamente, teria que conversar muito bem comigo, não quero fazer um projeto só por fazer. Gostaria de algo que tivesse bastante amor e paixão.
REVIL: Sobre o documentário. É curioso saber que teremos um documentário sobre algo tão curioso e que permeia a imaginação dos fãs da série, como o roteiro de George A. Romero para Resident Evil. Conte como surgiu a ideia de roteirizar e produzir este documentário?
BRANDON: A ideia original veio de um vídeo do YouTube que fiz. Acredito que eu tenha feito em fevereiro de 2019, não foi muito tempo depois do remake de Resident Evil 2. Foi um vídeo de 20 a 25 minutos, falando do roteiro de Romero. Na época, não fiquei satisfeito e ainda estava aprendendo a “fazer YouTube” e coisas do tipo.
Depois da publicação, imediatamente, queria refazer o vídeo. Portanto, no fim do mesmo ano, comecei a fazer mais pesquisas sobre o que queria fazer. Em março de 2020, vi um anúncio sobre a recuperação do roteiro de George A. Romero e coisas sobre isso. Mas quando tentei expandir a minha pesquisa, infelizmente veio a pandemia e não pude ter acesso. Tudo acabou fechando.
Então comecei a fazer alguns contatos e acabei me juntando ao Robert McGregor, que escreveu um artigo de 20 páginas sobre o primeiro filme, sobre a criação desse Resident Evil. Me aproximei dele novamente, isso levou um tempo, pois havia 10 anos que a gente não tinha contato, aí eu disse: “Ei, você gostaria de fazer um vídeo de 40 minutos comigo sobre isso”.
Robert e eu começamos a achar mais informações e fontes. Em 2021, entramos em contato com Suzi Romero e comentei a minha ideia: “Acho que tenho material suficiente para fazer esse documentário”, disse eu. Ela comentou que gostaria de ouvir mais sobre isso.
Ao fim de 2021, tínhamos basicamente um roteiro. E pensamos: “E se fizéssemos as entrevistas dentro de uma mansão?”. Poderíamos filmar na mansão e fazer várias conexões com tudo isso. E a partir disso, comecei a ter essa ideia de que não seriam só entrevistas, mas sim fazer parecer que tudo foi recuperado naquela mansão. Todos esses arquivos e artes conceituais, agora estariam nojentos e datados, como se estivessem ali por mais de 20 anos, e foram descobertos de novo por várias pessoas.
Como muitos não sabiam que o George iria fazer um filme de Resident Evil, esse é um cenário único que eu quis dar a esse longa, pois documentários normalmente não têm tanto trabalho envolvido. A gente foi filmar uma mansão de verdade e deu bastante trabalho, mas não importa quanto trabalho teríamos, fizemos assim mesmo.
Continuamos a desenvolver o projeto por todo o ano de 2021 e no fim daquele ano, consegui ler todos os roteiros do George. Agora temos todas as peças finais, revisamos o material e em 2022, contatei a Capcom e consegui a aprovação e sua bênção ao projeto, e as coisas começaram a rolar. A partir daí, tivemos alguns atrasos, típicos de filmes de Hollywood, ainda mais em um projeto independente como esse, que era um pequeno vídeo do YouTube e virou um grande documentário.
Parte 2
REVIL: Acredito que você goste muito do trabalho do “Pai dos Zumbis Modernos”, o lendário diretor George A. Romero. Como a estética e o “cinema” de Romero te influenciaram? E como o cinema de Romero estará presente no documentário?
BRANDON: Eu tenho um grande amor por George A. Romero, não só pelos filmes, mas pela pessoa. O filme “A Noite dos Mortos Vivos” foi o primeiro filme que eu vi, provavelmente com cinco ou seis anos. Minha mãe era uma grande fã de filmes de horror, já o meu pai, nem tanto. Assistir filmes de horror com a minha mãe era um momento de ligação com ela. Ela tinha uma caixinha cheia de filmes de horror e nós assistimos algumas coisas, mas um dia, tirei um filme e era “A Noite dos Mortos Vivos”, tinha uma capa muito, mas muito sinistra.
O filme me assustou para caramba e não assisti mais nada com zumbis depois disso. Aí assisti outras coisas como “Sexta-feira 13” e “A Hora do Pesadelo”, mas George A. Romero? Não, eu não tocava naquilo. Mas, mais ou menos ali na época de Resident Evil, voltei a George Romero, já que existiam rumores de que ele iria produzir um filme de Resident Evil. Pensei, “Ok, só posso jogar um filme de zumbis, talvez consiga aguentar ‘A Noite dos Mortos Vivos'”. Então assisti e amei! Em 1998, era aniversário de 20 anos de “Madrugada dos Mortos” e iria passar na TV, então assisti o filme e não muito tempo depois eu busquei outras obras do Romero.
Amo aquele estilo visceral puro de George e sua despreocupação com a censura. Ele sempre fazia o filme que tinha vontade de fazer, dizer algo. Ele sempre tinha uma mensagem, mas mais do que isso, sempre ouvi histórias de como ele era generoso, gentil e genuíno. Há relatos de como Romero nunca te fazia se sentir estranho, idiota, estúpido ou inferior a ele. Ele amava seus fãs, elenco, equipe e adorava fazer seus filmes, e isso conversou muito comigo. Muitas das histórias que vi nos últimos anos, realizando o projeto, são de como ele era uma grande pessoa. George foi minha inspiração para fazer filmes.
REVIL: A pesquisa documental de um documentário é muito importante, tanto que este é um dos pilares principais do gênero. Como foi o processo de organização desse material documental? Foi difícil criar a narrativa do documentário?
BRANDON: A pesquisa levou muito tempo, mas não houve dificuldades. Desde quando nós tivemos a ideia de “Talvez devêssemos fazer com que tudo estivesse dentro de uma mansão”, tudo começou a se encaixar no seu devido lugar. Isso resolveu diversos problemas de produção. Temos várias filmagens de diferentes momentos com diferentes formatos e resoluções.
Fomos atrás de outras pessoas com informações sobre documentos e artes conceituais. A grande dificuldade foi o período mesmo, especialmente porque o projeto começou a se desenvolver durante a pandemia. Essa foi a pior parte, esperar a pandemia acabar para continuar.
REVIL: No teaser trailer do documentário, vemos algumas cenas que foram recriadas diretamente do primeiro Resident Evil (1996) por vocês. Temos a floresta Arklay, a chegada dos membros da S.T.A.R.S. na mansão Spencer e mais. Estas cenas estarão no documentário? Como foi recriar momentos tão icônicos?
BRANDON: Na verdade, não recriamos cenas diretamente dos jogos por motivos legais. Não queríamos fazer parecer que fosse um filme “extra” no qual contamos uma história com diálogos e as mesmas cenas do jogo. Eu quis dar o tom e a equipe concordou, como se tudo parecesse um jogo de videogame.
Posso mencionar que há um momento no teaser em que temos uma pessoa lendo um livro, e ali podemos vê-la virando páginas e coisas do tipo. É dessa forma que vamos mostrar alguns textos antigos e entrevistas, como se a pessoa não estivesse mais viva. Queremos transmitir a sensação de um jogo de videogame, quando encontramos jornais e eles aparecem na tela exibindo a informação que queremos mostrar.
REVIL: Sabemos que a história da adaptação da série Resident Evil tomou um rumo bastante diferente nos cinemas. Qual é a sua relação com os filmes estrelados por Milla Jovovich e Robbie Amell?
BRANDON: Eu gosto do primeiro, não amo, mas eu gosto. Acho um filme competente, mas não posso dizer que curto a série, e não posso dizer que curti os filmes. Eu respeito a Constantin Film e o Paul W. S. Anderson por pegar uma ideia e transformá-la em algo que rendeu, desde a última contagem, cerca de 1.3 Bilhões de dólares, isso eu respeito.
REVIL: Agora sobre a Capcom e a Constantin Film, há algum tipo de parceria ou acordo entre vocês para que este documentário seja produzido e lançado? Houve algum impedimento?
BRANDON: Era crucial que chegássemos à Capcom e apresentássemos a ideia. Eu não queria que fosse apenas um “fã filme”, queria que todo mundo pudesse vê-lo. Então como produtor e realizador de filmes, precisei pensar no lado do negócio da coisa. Isso precisava ter um mercado, então fomos atrás das três responsáveis e propus o projeto à Capcom. Eles amaram!
Trabalhei com a Capcom dos Estados Unidos que intermediou o contato com a Capcom do Japão, conseguiu uma licença e eles realmente amaram a ideia.
Tentamos contato com a Constantin Film durante seis meses. A minha intenção inicial era contar a história do George A Romero por trás disso, e dar a Constantin Films a chance de contar o lado deles porque eu não queria fazer disso uma acusação a produtora, principalmente porque o produtor dos cinco primeiros filmes acabou falecendo em 2019 e não gosto da ideia de “bater em gente que já se foi”.
O produtor não está mais por aqui e nem George, então não é muito respeitoso sentar e acusar alguém sem que essa pessoa possa se defender. Realmente quis me aproximar deles com bastante respeito à Constantin Film, mas não nos responderam. Tínhamos muitas pessoas tentando contato com eles e apenas no final do ano passado, em 2022, conseguimos uma resposta e eles não quiseram se envolver. Suzi Romero e a Fundação George A. Romero sempre nos apoiaram e temos a benção deles, e essa é uma outra organização importante. Eu nunca faria isso se a Suzi tivesse dito que não.
REVIL: Em nossas conversas, você falou sobre trabalhar com a equipe do Residence of Evil. Eles estão envolvidos no projeto? Conte como é trabalhar com um dos maiores portais de Resident Evil do mundo.
BRANDON: Sim, o portal Residence of Evil nos deu total apoio a mim e ao documentário. Estive em contato com eles, que ajudaram a lançar o teaser trailer, e firmamos um acordo de que eles seriam a plataforma no qual as novidades do projeto poderiam ser vistas.
É um trabalho de fãs, para fãs então é natural chegar até a grande comunidade de Resident Evil e dizer, “vocês querem fazer parte disso”, porque é isso que os fãs querem, talvez não necessariamente a visão do George, e eu sei que é só um documentário por anos disseram, “Porque não deixam um fã fazer isto?”, então, tudo que vamos fazer é dar um gostinho de alguns aspectos do jogo, e é o que vamos fazer com esse documentário.
REVIL: E por fim, uma mensagem final à comunidade.
BRANDON: Obrigado por me permitir responder essas perguntas. Espero que gostem dessa entrevista e desde já queria agradecer todas as visualizações e por apoiar a gente, o teaser está indo muito bem. Espero que gostem do documentário quando for lançado e espero que ele saia até janeiro de 2024.
Esse projeto sempre foi sobre os fãs de Resident Evil e os fãs de George Romero. E mais importante ainda, isso tudo é sobre George Romero e se você está gostando do que estamos fazendo peço que entrem no site da Fundação George a Romero e faça uma doação a eles.
De novo agradeço a oportunidade e espero que gostem do documentário quando ele for lançado.
O REVIL já produziu diversos conteúdos sobre a influência de George A. Romero para a franquia e as suas contribuições para o gênero como um todo. Veja ou leia o especial “A importância de George A Romero para Resident Evil”:
E você, já assistiu as duas partes da entrevista em vídeo em nosso canal do YouTube? Ficou curioso para ver este documentário? Acompanhe o REVIL para saber mais informações e novidades sobre “George A. Romero’s Resident Evil: A Documentary”.
Colaborou com a revisão textual deste conteúdo: Caio Vale