Arte: Frank Alcântara

A conexão do NE-α (NE-Alpha) com Las Plagas e G-Vírus

Com os lançamentos mais recentes das recriações dos jogos da saga Resident Evil, fica evidente que a Capcom se empenhou em reviver os clássicos do final da década de 1990 e início dos anos 2000, com o intuito de modernizá-los. Esta modernização abrange diversos aspectos destes games, incluindo os gráficos, a jogabilidade, a trilha sonora e, especialmente, o enredo.

É notável como muitos elementos da trama dos jogos originais foram aprimorados nas versões recriadas, evidenciando o compromisso da Capcom em estabelecer conexões entre elementos que antes não tinham ligações, parecendo até mesmo independentes. Um exemplo disto é a relação entre o parasita NE-α (NE-Alpha), Las Plagas e o G-Vírus, que ganha destaque nos novos jogos.

Vamos explorar a fundo esta conexão fascinante que nos leva a diversas especulações instigantes. Uma delas é a possibilidade de a Umbrella ter conhecimento das Las Plagas, um ponto que nunca foi abordado nos jogos originais. Aliás, importante lembrar que este artigo contém revelações sobre o enredo de jogos da saga Resident Evil, especialmente os remakes, portanto, atenção caso ainda não tenha tido a oportunidade de jogá-los.

GLÓRIA A LAS PLAGAS!

Antes de tudo, é preciso destacar que, tanto no enredo do Resident Evil 4 original quanto no remake, Las Plagas é o nome de um parasita antiquíssimo que foi descoberto na Espanha e acabou se tornando objeto de veneração por parte do culto Los Iluminados. Sua origem é inteiramente natural, o que significa que não é resultado de experimentos em um laboratório e, à medida que foi estudado, este parasita peculiar revelou habilidades extraordinárias.

Dentre elas está a capacidade de influenciar os padrões de comportamento de seus hospedeiros. Trata-se de organismos sociais que vivem em harmonia social perfeita, demonstrando uma inteligência coletiva raramente vista em parasitas. Las Plagas também exibem notáveis habilidades de adaptação, sendo capazes de habitar diversos organismos e estabelecer simbioses. Esta habilidade, aliada ao seu comportamento social, permite a interação entre hospedeiros infectados, independentemente da espécie a que pertençam. Com isto, resta evidente que Las Plagas possuem um grande potencial para serem exploradas como armas biológicas.

Aliás, um detalhe intrigante no remake de Resident Evil 4 é a ocorrência de mutações no mínimo curiosas que Las Plagas causam em alguns hospedeiros: olhos gigantes e aterrorizantes. Embora tais mutações tenham sido apresentadas no jogo original, como nos casos de Ramón Salazar e Osmund Saddler, na recriação do jogo, esta peculiaridade assume um papel mais proeminente e merece destaque, o que torna um detalhe digno de nota para o propósito deste artigo. No remake, um exemplo notável desta mudança é a presença de um olho nas costas de Bitorez Méndez, algo que não estava presente no jogo original.

De qualquer forma, apenas com a trama do jogo original, especula-se que Las Plagas existem desde o período medieval, compreendido entre os séculos V e XV, embora esta questão nunca tenha sido devidamente explorada nos jogos. No entanto, com o Resident Evil 4 remake, o documento intitulado “Cronologia da Família Salazar” lança fortes indícios de que a região onde Las Plagas foram descobertas, seladas e posteriormente liberadas, desencadeando os eventos do game, possui raízes extremamente antigas. Embora não sejam especificadas datas precisas, a antiguidade das Las Plagas é evidente.

É importante notar que a Umbrella Corporation foi fundada em 1968 por Lorde Ozwell E. Spencer e Lorde Edward Ashford, ambos provenientes de famílias europeias ricas e tradicionais, juntamente com James Marcus. É neste ponto que a trama da saga Resident Evil fica ainda mais intrigante.

No enredo de Resident Evil 5, é revelado que Spencer demonstrou grande interesse por um livro intitulado “Pesquisa da História Natural”, escrito por Henry Travis muitos anos antes. Este livro continha valiosas informações sobre a fauna e a flora do continente africano, bem como detalhes sobre as tradições, cultura e folclore dos povos africanos, com ênfase especial na tribo Ndipaya. O que mais chamou a atenção de Spencer foi a descrição da flor “Escada para o Sol” contida neste livro, especialmente os efeitos que provocava nos membros da tribo.

Spencer compartilhou esta descoberta com seus companheiros, Ashford e Marcus, e, com o decorrer do tempo, os três decidiram organizar uma expedição à África Ocidental. Eventualmente, esta expedição levou à descoberta de um vírus na flor Sonnentreppe, que foi batizado de Progenitor. Este vírus, mais tarde, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do T-Vírus.

Além disto, os eventos narrados no enredo de Resident Evil Village também envolvem o chefão da Umbrella e nos instigam a mais especulações. No documento intitulado “Carta de Spencer”, revela-se que Spencer e Miranda, líder de outro culto no leste europeu, mantinham contato e debatiam ideias a respeito de suas visões de mundo e objetivos esquisitos, principalmente no que diz respeito a Spencer. Nesta mesma carta, Spencer faz menção à descoberta do vírus Progenitor na África, sugerindo que esta foi enviada na década de 1960.

O cerne de tudo isto é perceber que Spencer, a grande mente por trás das ações da Umbrella ao longo da saga, tinha conhecimento e interesse em elementos naturais promissores que poderiam concretizar seu doentio plano eugenista, que visava promover uma evolução forçada na humanidade. Isto conclui que Spencer possuía informações sobre a existência do Megamiceto, haja vista seu contato com Miranda, e nos leva a crer que talvez até os experimentos da Conexões/Contatos e, muito possivelmente, das Las Plagas.

Dados os recursos e o poder da Umbrella, não é absurdo supor que esta megacorporação farmacêutica tinha conhecimento e, possivelmente, conduzia pesquisas sobre uma ampla gama de elementos naturais e artificiais, visando o desenvolvimento de suas armas biológicas. Com base nisto, é razoável acreditar que a Umbrella estava ciente da existência das Las Plagas, o que nos leva a concluir que a empresa obteve alguma amostra destes parasitas espanhóis. O que antes era apenas uma especulação de fãs, agora, com os remakes de RE3 e RE4, passou a integrar a estória oficial da saga.

A ARMA BIOLÓGICA PERFEITA

Com base nos jogos antigos, a primeira ocorrência de um parasita utilizado para criar uma arma biológica foi apresentada em Resident Evil 3: Nemesis (1999), introduzindo o icônico Nemesis. Este ser é considerado a arma biológica perfeita, capaz de obedecer e executar ordens com extrema eficiência. Graças a seu sistema nervoso parcialmente preservado, o Nemesis pode até tomar decisões independentes sem a necessidade de comandos constantes e manusear armamento pesado com notável precisão. Adicionalmente, a arma biológica possui notáveis poderes de regeneração que distinguem o Nemesis dos Tyrants, contudo, estes processos regenerativos não são isentos de consequências, acarretando severas alterações em sua anatomia como um custo elevado a se pagar.

Para dar origem ao formidável Nemesis, o Laboratório Nº 6 da Umbrella na Europa empreendeu a tarefa de desenvolver um parasita resultante de manipulação genética, ao qual foi atribuído o nome de NE-α (NE-Alpha). Uma vez que o parasita se aloja no cérebro de um ser vivo, assume controle absoluto do organismo, com o menor comprometimento mental do hospedeiro. O propósito do projeto era capacitar o organismo infectado com habilidades cognitivas, preparando-o para o combate. Posteriormente, os pesquisadores planejavam fundir estas duas características para criar uma arma biológica altamente eficaz.

Dito isto, a origem do parasita NE-α nunca foi detalhadamente explorada, e há quem especule que Las Plagas poderiam ter sido utilizadas pela Umbrella para criar o Nemesis, algo que estaria subtendido no enredo, embora esta conexão jamais tenha sido abordada propriamente na trama da saga. No entanto, tudo isto mudou com o lançamento do remake de Resident Evil 3 em 2020.

A trama do remake de RE3 não apenas aprofundou aspectos que o jogo original deixou a desejar em alguns pontos, mas também introduziu novos elementos e esclarecimentos. Na parte final do jogo, o documento intitulado “Carta Apreensiva” revela de maneira explícita que um organismo parasitário foi implantado no cérebro de um Tyrant para controlá-lo. Esta informação se alinha com as explicações já conhecidas sobre o desenvolvimento do Nemesis, que foram apresentadas nos famigerados “Wesker’s Report” e “Wesker’s Report II”, considerados material suplementar à estória da saga Resident Evil, embora hajam debates sobre sua canonicidade.

 

Este documento presente no Resident Evil 3 remake pode levar os jogadores a considerar se ele serve como um indício para os eventos de Resident Evil 4, estabelecendo uma conexão entre os jogos que antes não existia efetivamente, mas agora se torna mais clara. Contudo, infelizmente o enredo da recriação de RE3 manteve esta questão em aberto até que, durante uma entrevista ao PlayStation Blog em 2020, o diretor do remake de Resident Evil 3, Kiyohiko Sakata, compartilhou detalhes sobre o Nemesis, incluindo a adaptação de seu design para a nova geração de jogos e a criação de sua versão jogável em Resident Evil Resistance.

O aspecto mais intrigante da entrevista é a parte em que Sakata esclarece informações adicionais relacionadas ao Projeto Nemesis.

“A pesquisa da Umbrella Corporation estava dividida entre a Europa e os Estados Unidos. O ramo europeu cuidou do projeto nemesis, enquanto o ramo americano, cuidou do T-virus.

O projeto Nemesis buscava criar artificialmente o parasita Plagas, descoberto na natureza, assim dando origem ao NE-α. A ideia era encontrar um hospedeiro vivo que pudesse conter o NE-α, o que em troca, transformaria o hospedeiro fisicamente em uma bio arma. Entretanto, a realidade é que nenhum hospedeiro pode conter o poder do NE-α, nem encontraram meio de regulá-lo. Como resultado, o projeto foi inevitavelmente colocado em hiato.

Enquanto isso, o ramo americano terminou a criação da bio arma Tyrant, usando o T-virus, a ponto de poderem inclusive realizar testes em campo com ele. Sentindo-se pressionada, a Umbrella Europe decidiu usar Tyrant como base para criar Nemesis.

O projeto Nemesis foi acelerado agressivamente, e até conseguiu resultados, mas o NE-α precisava ser regulado usando um dispositivo no peito do hospedeiro, além de equipá-lo com inibidores para que não perdesse controle em campo.”

Com isto, houve um aprofundamento significativo no desenvolvimento do Nemesis e uma verdadeira conexão entre o parasita NE-α e Las Plagas, algo que, no passado, era apenas objeto de especulação por parte dos fãs, embora fizesse todo sentido. Agora, esta conexão está de fato estabelecida. Uma pena que esta informação tenha sido revelada em uma entrevista, pois se fosse feita por documentos no game seria mais impactante e complementaria ainda mais este tópico.

Dito isto, lamentavelmente, estas informações não foram incluídas no remake de RE3, mas foram “explicadas” na trama do remake de RE4. No jogo, é revelado que Luis Serra Navarro é um ex-pesquisador da Umbrella e teve envolvimento com o Projeto Nemesis, algo totalmente inédito e que confirma mais uma vez a conexão entre os jogos, destacando-se que a grande corporação vilã da saga já tinha conhecimento dos Los Iluminados desde pelo menos a década de 1980.

No entanto, a ressalva com a palavra “explicadas” entre aspas é devido à ausência de um documento no jogo que esclareça da mesma forma que o diretor Kiyohiko Sakata fez na entrevista. Seria de extrema importância que estas informações fossem apresentadas dentro do jogo em si, uma vez que nem todos os fãs vão ler entrevistas para compreender completamente o enredo da saga, embora alguns possam argumentar que as conexões entre os jogos são evidentes. De qualquer forma, o ideal é: “quanto mais explicações, melhor”.

Embora o Nemesis não apresente mutações com olhos grandes e aterrorizantes, é evidente que tanto no jogo original quanto no remake, o Nemesis passa por mutações severas. Isto é especialmente notável na batalha final da versão recriada do jogo, onde o Nemesis se transforma em uma criatura enorme, o que lembra a transformação de Osmund Saddler no final do remake de Resident Evil 4.

Isto nos leva a questionar se Las Plagas possuem uma aptidão natural de mutação excepcional, capaz de transformar seus hospedeiros em monstros de proporções gigantescas. Curiosamente, isto nos remete a outro vírus e, consequentemente, que tem relação com a Lisa Trevor, uma vítima das atrocidades cometidas, talvez a maior, pela maléfica Umbrella Corporation.

De acordo com os “Wesker’s Report” e “Wesker’s Report II”, os laboratórios da Umbrella nos EUA importaram o Nemesis para realizar experimentos em 1988. Os primeiros testes, que tiveram início na Europa, não apresentaram resultados promissores. Albert Wesker e William Birkin receberam um relatório que mencionava inúmeras mortes relacionadas a um parasita que rapidamente dominava a mente dos hospedeiros e os levava à morte em meros cinco minutos. Dada a extrema agressividade deste parasita, era preciso encontrar um hospedeiro extraordinariamente resistente.

A escolha para servir como cobaia recaiu sobre Lisa Trevor, que ainda estava mantida enclausurada nos laboratórios em Arklay. Os experimentos iniciais com Lisa não proporcionaram resultados conclusivos, e o parasita não pôde ser imediatamente detectado em seu organismo. No entanto, análises posteriores conduzidas por William Birkin resultaram em uma descoberta significativa: o G-Vírus.

MEU PRECIOSO G-VÍRUS

O parasita NE-α foi introduzido no corpo de Lisa Trevor, mas ao invés de dominá-la, ele desapareceu enquanto tentava invadir o sistema nervoso central da garota. Lisa passou por uma série de experimentos, e foi somente após um extenso processo que William Birkin conseguiu identificar um agente viral, que eventualmente levou à descoberta do G-Vírus.

Depois de ser extraído do corpo de Lisa Trevor e estudado por Birkin, o G-Vírus se revelou uma arma ímpar com a capacidade de causar mutações em um organismo por conta própria. Enquanto o T-Vírus acelera o metabolismo e compromete as células do hospedeiro, o G-Vírus tem o poder de reprogramá-las e efetivamente criando uma forma de vida completamente nova. As células infectadas pelo G dão origem às chamadas células G, que provocam transformações drásticas no corpo do hospedeiro, enquanto se alimentam dele.

Devido às mutações incontroláveis que o G-Vírus causa em seus hospedeiros, os olhos gigantes e aterrorizantes sempre chamaram a atenção. É inesquecível o momento em que William Birkin, com um olho enorme em seu braço direito, surge pela primeira vez tanto no RE2 original quanto no remake. Isto nos leva a questionar se esta característica adveio das Las Plagas, certamente algo bem possível.

Outra questão pertinente é: como o G-Vírus surgiu no corpo de Lisa Trevor? Poderia algo assim realmente acontecer? Isto é crível? A resposta é sim. Infelizmente, Lisa Trevor foi usada como cobaia em experimentos laboratoriais por anos nas instalações em Arklay e recebeu diversas injeções de diferentes tipos de vírus. Embora poucas mudanças fossem visíveis externamente, muitas transformações estavam ocorrendo dentro de seu organismo.

Um novo vírus pode surgir no interior de um organismo, e isso é denominado como “shift antigênico”. Este termo é frequentemente associado ao vírus da gripe, onde diferentes tipos de vírus se misturam e criam uma nova variante do vírus, que pode ser perigosa porque as pessoas não têm imunidade contra ela, podendo levar a surtos graves de gripe.

No caso de Lisa Trevor, o “shift antigênico” é uma explicação plausível para o surgimento do G-Vírus em seu corpo. A presença de vários vírus semelhantes, em diferentes estágios experimentais em seu organismo, combinada com a presença do parasita NE-α, possibilitou a mistura acidental destes elementos, resultando na criação de um novo agente infeccioso.

Portanto, torna-se evidente que o G-Vírus é uma mescla de elementos perturbadores que foram introduzidos no corpo de Lisa Trevor. Embora o parasita NE-α, uma criação artificial das Las Plagas, não seja o único componente na formação do G-Vírus, é plausível que haja uma influência destes notáveis parasitas.

Isto nos leva a questionar se os olhos grandes e bizarros, que sempre associamos ao G-Vírus, podem, na verdade, ter origem nas Las Plagas o tempo todo. Será que este poder de mutação instável e infinita é uma herança do potencial das Las Plagas, que foi intensificado no corpo de Lisa Trevor? São questões verdadeiramente fascinantes no enredo da saga Resident Evil, demonstrando que as estórias dos jogos mais recentes estão mais interligadas do que nos jogos originais no que diz respeito em certos aspectos.

CONEXÕES PROFUNDAS

Diante de tudo isto, fica evidente a importância destas conexões para enriquecer o enredo da saga Resident Evil e demonstra como a Capcom tem gradualmente atualizado a franquia. Na verdade, os desenvolvedores estão quase realizando um reboot, um reinício da saga com estes últimos remakes, pois introduziram muitos elementos novos e detalhes que engrandecem o universo da saga.

Embora a própria Capcom não tenha oficialmente declarado que os remakes substituem os jogos originais, é inegável que ela está aprimorando a estória da saga, o que, por um lado, traz benefícios, mas, por outro, pode causar confusão em algumas situações. É crucial que a Capcom eventualmente esclareça o que é considerado canônico e o que não é para garantir a consistência e a clareza dentro da narrativa da franquia.

De qualquer forma, testemunhar a conexão destes elementos no enredo da saga é verdadeiramente gratificante para nós, fãs. Agora, ansiamos com grande expectativa do próximo jogo desta saga espetacular, que, apesar de seus altos e baixos, permanece no topo, cativando-nos com a trama inegavelmente intrigante e recheada com o horror de sobrevivência que tanto amamos.

Em uma determinada parte do remake de Resident Evil 4, Luis Serra afirma que a Umbrella já era, sugerindo a falência da gigante farmacêutica, assim como é dito na trama original de RE4. No entanto, é inegável que os tentáculos desta empresa nefasta permanecem entrelaçados em vários aspectos ao longo da saga, mesmo que de maneira indireta. Infelizmente, as experiências malignas da Umbrella abriram caminho para que outras pessoas cometessem atrocidades ainda piores. Neste contexto, nós, os fãs, ansiamos por futuras revelações que possam mostrar ainda mais estas conexões entre os eventos, proporcionando um enredo cada vez mais interligado nesta saga histórica.

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