Hiroyuki Kobayashi Produtor (à esquerda) e Eiichiro Hasumi Diretor

Diretor e produtor da Capcom falam em entrevista sobre Resident Evil: No Escuro Absoluto

A quarta animação em computação gráfica da franquia Resident Evil, Resident Evil: No Escuro Absoluto (Resident Evil: Infinite Darkness, em inglês), será distribuída mundialmente na Netflix em 8 de julho. Esse será o primeiro conteúdo distribuído em forma de série dramática para TV e será dirigido por Eiichiro Hasumi, conhecido pelo filme live-action “Umizaru“. O enredo gira em torno de um incidente ocorrido em um lugar fictício chamado Penamistão, e Leon S. Kennedy e Claire Redfield, amigos de longa data, estão envolvidos em uma grande conspiração em seus respectivos cargos.

O site IGN Japão (texto original por Shuka Yamada) entrevistou o produtor da Capcom, Hiroyuki Kobayashi, que supervisiona a história original, e o diretor Eiichiro Hasumi para descobrir sobre o que é o filme. O conteúdo original estava disponível em japonês e o REVIL utilizou tradutores (com adaptações) para trazer o conteúdo para o português. Confira a seguir essa conversa que envolve No Escuro Absoluto!


IGN: Resident Evil: No Escuro Absoluto finalmente será lançado dia 8 de julho. Por favor, conte-nos como estão se sentindo.

Kobayashi: Estou realmente ansioso! Os três anos de trabalho árduo (o período de produção) se encerraram, e pessoas no mundo todo vão poder finalmente ver o resultado. Mal posso esperar.

Hasumi: A franquia (Resident Evil) tem fãs em todo o mundo, então espero que todos que estão ansiosos para o lançamento fiquem satisfeitos.

IGN: “Resident Evil” é uma longa história, com seus 25 anos. Imagino que tenha sido difícil criar uma história original que se encaixe bem com a saga sem ficar desconexo.

Kobayashi: Quando começamos a trabalhar neste filme, o primeiro ponto que levantei foi em que época trabalhar. Nesses 25 anos, há uma cronologia da série “Resident Evil” já estabelecida. Os produtores decidiram falar sobre Claire e Leon, então o tempo em que se poderia passar foi decidido naturalmente. Conversamos sobre como seria o Leon e sua idade, e na história do jogo, ficou decidido que se passaria em 2006. Agora, qual tipo de Leon queríamos trazer?… Você deve perguntar ao diretor.

Hasumi: Eu tive a oportunidade de participar desse projeto sem estar tão familiarizado com Resident Evil como o resto da equipe, então fiz várias perguntas ao Sr. Kobayashi para entender que tipo de pessoa Leon era. Leon passou de um policial novato em Raccoon City, com um forte senso de justiça, para este homem desgastado pela luta contra o bioterrorismo em Resident Evil: A Vingança. O Sr. Kobayashi me disse que poderia ser interessante abordar o período entre essas versões distintas de Leon, e eu pensei que certamente seria um drama, então decidi trabalhar com esta abordagem.

Hiroyuki Kobayashi, produtor da Capcom

IGN: Este é o primeiro trabalho de computação gráfica em sua carreira. Há alguma diferença em relação a um filme Live-Action?

Hasumi: Eu nunca tinha feito uma animação CG, mas quando os produtores me abordaram, fui informado do tipo de suspense e drama que pretendiam trazer a tona, foi a primeira vez que me deram uma ideia tão clara de que tipo de trabalho eu deveria fazer, por isso, apesar de ser minha primeira vez, não fiquei tão preocupada. Afinal, “RE” é uma grande série com fãs em todo o mundo, e fazer um novo trabalho é um desafio enorme e extremamente gratificante.

Ao fazer este trabalho, usei a mesma abordagem do filme de Live-Action. Os produtores com experiência em animação CG entenderam minha abordagem Live-Action, então não tive muitos problemas.

IGN: Há também cenas com locais escuros, como a Casa Branca e um submarino à noite, e eu senti que os cineastas criaram as imagens de forma muito delicada.

Hasumi: Utilizamos da mesma abordagem de um filme de ação Live-Action. Então, na mentalidade de que estávamos realmente no local, não colocamos as câmeras em um lugar onde não pudesse colocá-las e não utilizámos lentes que não poderiam ser utilizadas em um Live-Action. Em um local estreito e mal iluminado como um submarino, eu gostaria de ter uma profundidade superficial, mas como esta cena só poderia ser filmada com uma lente grande-angular, foi preciso comprometer minha ideia como em uma cena de Live-Action. A CG poderia fazer isso, mas eu não queria estragar o senso de realidade da cena. Eu imagino que muitos dos espectadores que vão assistir sem estar cientes do método de filmagem já assistiram uma obra Live-Action, então irá lhes parecer que estão assistindo um Live-Action sem que eles percebam.

IGN: É a primeira vez que produzem uma série de quatro episódios na Netflix, mas por que escolheram este formato?

Kobayashi: Eu já fiz três animações em CG, então comecei este projeto com a vontade de fazer uma série de drama desta vez. Eu também gosto de séries de drama como animes, então quis criar um sentimento de antecipação em querer ver o próximo episódio o mais rápido possível. Logo, eu já tinha em mente o final de cada episódio e decidi a estrutura do roteiro ao conversar com o diretor.

IGN: Dirigindo esta nova produção, teve algum aspecto dos antigos filmes que você reconheceu na obra?

Hasumi: Existe uma linha do tempo muito bem definida em Resident Evil, não apenas nas animações passadas, mas também nos jogos, então aprendi muito com o Sr. Kobayashi sobre o que os fãs esperavam, Eu aprendi muito e quanto mais aprendia mais interessante as histórias e eventos se tornavam. Entendendo a linha do tempo, eu pude usar mais elementos de determinado período. Eu passei a me divertir criando a história, pois as regras eram muito claras.

Kobayashi: Eu disse ao diretor que tudo bem se ocorresse um novo incidente envolvendo zumbis, mas que não fizesse um evento tão grande que se tornasse notícia, pois teria que se encaixar na linha do tempo de Resident Evil. Seria ruim se um incidente zumbi na Casa Branca entrasse pra história, então eu os disse para deixar em um nível em que o público no mundo de Resident Evil não ficasse sabendo.

IGN: A sequência de abertura mostra uma cena onde forças armadas dos EUA realizam uma operação no céu. O que sua experiência como diretor pode trazer para esta cena?

Hasumi: Acho que a cena de abertura é muito importante em filmes de ação e dramas. É a primeira música em um show de rock, então temos que começar a todas as marchas. Em vez de começar com uma exposição ou com a vida diária, eu gosto de começar com um clímax, mesmo que não fique claro em primeiro momento o que está acontecendo.

Desta forma, essa é uma história de suspense, em que gradativamente vamos descobrindo o que aconteceu em Penamistão, mas eu pensei no começo da produção que a história começaria com a cena de um campo de batalha. Eu tinha uma ideia de que a história começaria em uma cena surpreendente, mas que gradualmente ficaria claro que aquilo é um pretexto para outras coisas e que estávamos mostrando fragmentos de eventos que seriam importantes para a narrativa mais tarde.

Diretor Eiichiro Hasumi

IGN: Com Leon como protagonista, devemos esperar ação como um destaque?

Kobayashi: Desta vez nós focamos em um drama de suspense, então tentei fazer a ação mais parecida com o estilo “Resident Evil”. No caso de “Resident Evil”. Eu pedi ao diretor algumas cenas clássicas que caberiam em um Resident Evil, como uma certa cena no final.

Hasumi: Quanto a Leon, o Sr. Kobayashi me disse que não há problema em pensar que ele é uma pessoa que poderia realizar as ações que Tom Cruise interpreta.

IGN: Por favor, conte-nos um pouco mais sobre o personagem de Leon que vocês querem retratar para esta obra.

Hasumi: Leon é um personagem que não fala muito. Acho que é algo que contribui em seu charme. Há uma cena em que Claire e Leon discordam sobre uma verdade oculta, mas enquanto Leon está do lado do sistema, ele não conta os motivos de suas ações, mesmo sabendo que Claire também pode estar se envolvendo em uma estrada perigosa. Eu acho esse tipo de coisa legal. Esse tipo de coisa é possível, pois o Sr. Kobayashi me disse que o personagem estaria de acordo com o Leon desta época.

Kobayashi: O trabalho anterior, “A Vingança”, se passa em 2014 e retrata um Leon cansado e bêbado. Já o jogo (RE4) que se passa em 2004, dois anos antes de Resident Evil: No Escuro Absoluto, mostra um Leon como um agente recém-formado. O diretor queria representar o intermédio entre essas fases, ou melhor, o crescimento de Leon como um agente, e foi assim que arquitetamos a história.

IGN: Como que Claire, a outra protagonista, é representada?

Hasumi: Ela é uma mulher muito quadrada, e eu acho que este foi um período muito interessante na vida dela, comparada a Leon que teve que mudar de posição. Claro que ainda há a camaradagem e confiança um no outro, mas essa sensação de ambos estarem trilhando caminhos diferentes é uma parte importante do drama.

IGN: Se tratando de um projeto audiovisual baseado em um jogo, há algo em que você foi particularmente consciente?

Kobayashi: A narrativa dessa série é algo que não foi contado nos jogos, então é claro que eu quero que os fãs gostem dessa nova história. Mas eu também queria fazer uma série que pessoas que não conhecem a franquia também possam se interessar. Naturalmente há cenas que os fãs dos jogos irão gostar, mas eu não posso dar muitos detalhes se não iria entregar a história. Mas eu gosto de ter um bom equilíbrio em falar sobre os eventos de Raccoon City e mencionar os eventos de jogos passados, sem incluir somente coisas que apenas os fãs entenderiam. Eu tentei criar uma obra balanceada.

IGN: Há outros trabalhos em live-action que o tenha inspirado?

Hasumi: Eu assisto filmes de Hollywood desde que era pequeno, então mesmo quando estou escrevendo um roteiro de filme no Japão, eu penso em inglês e imagino um ator hollywoodiano. Enquanto escrevia a história desta vez, pude fazer como imaginei primeiramente, por isso foi muito divertido fazê-lo. Os atores de captura de movimento que foram convidados para o projeto também são americanos.

Quando se trata de fazer histórias ambientadas no Japão, a representação de cada organização é muito diferente. Quando se trata de criar uma história com as Forças de Autodefesa ao invés do Exército dos EUA, a abordagem é completamente diferente, e aí uma das principais diferenças das Forças de Autodefesa do Japão. Desta vez, a ambientação é totalmente americana, então foi divertido fazer a casa branca e a organização representada, que é a minha visão dos filmes americanos.

IGN: Por favor, diga-nos se você tem alguma cena favorita.

Kobayashi: Existem algumas cenas em que Leon e Claire conversam, então eu gostaria que você prestasse atenção nas falas, palavra por palavra, para não tirar os olhos delas. Fora isso, a Mad Dogs dará seu máximo em várias situações, então eu gostaria que você visse toda a história deles durante a série.

Claro, fiz esta obra para que você possa assistir mesmo que você não conheça a história do Leon e da Claire, seja nos eventos passados ou pós No Escuro Absoluto. Eu ficaria muito feliz se você pudesse se aprofundar nos jogos e filmes a partir daqui. Se você assistir Resident Evil: No Escuro Absoluto, sua vida como fã da franquia será ainda melhor. Espero que se divirtam.

Tradução para o português: Fred Hiro e Nicolas Gomes