Arte: Frank Alcântara

Análise – Resident Evil 4 – Xbox Series S

Continuando a onda de remakes da Capcom – que parece não ter mais fim – finalmente temos o remake do jogo que muitos achavam que não precisava de uma nova versão, mas que jogaram da mesma forma. Resident Evil 4 (2023) é um dos maiores acertos da Capcom dos últimos anos, conseguindo equilibrar a ação e o horror de sobrevivência de melhor maneira que o original. Entretanto, apesar de decisões acertadas, o jogo sofre com diversos problemas técnicos na pequena caixa da Microsoft, o que tira um pouco do brilho de um game que em outros aspectos é sensacional.

História

Todas as grandes marcas do original estão presentes nesta reimaginação, entretanto, a história foi retrabalhada para se conectar melhor com os eventos que ocorreram em Resident Evil 2 (2019). Tudo está lá, mas de uma forma mais real e crua, embora ainda mantenha alguns elementos que nos fazem lembrar que é um videogame. Fãs de RE4 (2005) podem se surpreender com algumas alterações que foram feitas, para melhor diga-se de passagem, principalmente com relação a participação de Luis Serra. No geral, a trama segue a mesma linha de missão de resgate da filha do presidente dos EUA, mas com uma pegada mais realista, assim como foi feito nos remakes anteriores.

As falas e eventos são mais críveis, como se fossem pessoas de verdade vivenciando uma situação absurda. Leon S. Kennedy é claramente uma evolução de seu personagem de RE2 (2019), mas ainda mantém um pouco do seu humor (pastelão) do Resident Evil 4 original. Alguns podem dizer que a mudança de tom na história pode tirar um pouco do charme do game, mas isso é algo muito subjetivo e apenas a experiência do jogador pode decretar se a mudança é boa ou ruim.

Exploração e Ambientação

Um dos pontos mais fortes da trilogia original era exatamente o desafio na exploração de novas áreas e no backtracking e é aqui que o remake melhora e muito o material. Nesta nova versão, temos mais ir e vir dentro de uma área e motivos variados para querermos explorar. Seja para completar um dos desafios que o comerciante nos deixa ou para buscar novas munições ou uma chave perdida para alguma gaveta com um possível tesouro, motivos não faltam para você olhar em cada canto. Existem áreas do game que não foram exatamente cortadas, mas incorporadas em outros lugares para criar uma maior sensação de um local real, que se conecta com o resto do mapa. No RE4 original nós basicamente andávamos em linha reta. Nesta reimaginação poderíamos voltar ao início do jogo, não fossem as travas criadas para fazer o jogador avançar.

A ambientação é outro ponto forte, é sensacional chegarmos na vila praticamente de madrugada e acompanharmos o dia passar com todas as mudanças de cores que a iluminação do sol e lua podem proporcionar. E este é um dos RE com maior variação nos cenários. Mesmo que no início tenham muitas pedras e regiões rochosas, ainda passamos por lagos, indústrias, castelos, laboratórios e diversos outros ambientes.

Gameplay

Mas é na jogabilidade e novas mecânicas que o jogo se sobressai ao original. Obviamente a capacidade de andar e atirar não poderia ficar de fora da reimaginação, mantendo a gameplay muito parecida com a dos jogos mais atuais da franquia. Entretanto, os desenvolvedores utilizaram todo conhecimento adquirido com RE2 e Resident Evil 3 e implementaram duas novas mecânicas que diversificam o gameplay. Uma delas é o já conhecido parry, onde podemos bloquear praticamente todo tipo de ataque. Essa nova habilidade de Leon traz combates ainda mais divertidos e diversificados, nos dando mais ferramentas para aqueles momentos em que parecemos encurralados, e acredite, você vai ficar encurralado, principalmente nas maiores dificuldades. Mas para que o jogador não use o parry sem limites, as facas apresentam uma durabilidade o que torna utilização da nova mecânica mais estratégica.

Já a nova mecânica de stealth não fez muito barulho – ba dum tss -, mesmo que em alguns momentos do game seja a melhor forma de se agir, a furtividade não apresenta grandes incentivos para o jogador, e tende a ficar mais no banco de passageiros.

Outra novidade foi que a maleta e seus chaveiros agora tem uma função de suporte, visto que alguns modelos de maleta podem aumentar as chances de algum item ou crédito aparecer com maior recorrência. Já os chaveiros, por sua vez, têm os mais diversos usos, podendo aumentar quando os itens de cura restauram da sua barra de vida, até grandes descontos ou GANHOS em suas negociações com o comerciante. Vale a pena revisar bem quais chaveiros está usando, pode-se tirar grande vantagem deles.

Uma pequena mudança que pode passar despercebida é a da forma de combinarmos os tesouros. Existem combinações específicas de engaste de pedras que proporcionam um excelente ganho nas vendas e isso traz mais um elemento estratégico para o jogo. Se valendo dessas diversas ferramentas, podemos ficar extremamente poderosos em apenas uma jogada, o que pode facilitar seu novo jogo plus em um modo Profissional.

Extras e Mercenários

A propósito, muitos chaveiros que vamos adquirindo são através do minigame de tiro que encontramos nas lojas do comerciante a partir de um ponto do jogo. O pequeno passatempo retorna do original, mas com elementos novos o suficiente para diferenciá-lo. E como já tem sido de comum nos últimos Resident, enquanto jogamos, vamos acumulando pontos para trocar por modelos de personagens, artes conceituais e alguns itens que podem facilitar a nossa vida.

Apesar do jogo não ter sido lançado com o modo mercenários, apenas duas semanas depois tivemos o acréscimo do mesmo através de um DLC gratuito e posso dizer que é excelente, bem diferente da última interação que tivemos em Resident Evil Village. Aqui temos Leon, Luis – sim, finalmente podemos jogar com ele-, Krauser e Hunk. Os personagens têm maneiras de jogar diferentes e características únicas e com certeza cada um vai ter o seu favorito. Apesar de uma excelente seleção, ainda parece que falta algo a mais. É um modo extremamente divertido e acessível mas que conta com pouco conteúdo, quem sabe em uma futura nova DLC possamos ter mais personagens e cenários. Vale a pena citar a oportunidade perdida da Capcom de fazer deste mercenários um modo multiplayer online da franquia.

Problemas na Caixinha

Nem tudo são flores, apesar do game ser excelente em conteúdo, jogabilidade e ambiente. No Xbox Series S, o jogo foi lançado com diversos problemas técnicos que impedem o mesmo de realmente brilhar na memória de quem optou por esta versão. O que é uma pena tendo em vista que o jogo roda de forma muito satisfatória nas outras plataformas o qual está disponível. Enquanto no PS5 ou no Series X o game tenha alguns problemas visuais leves, no modo RESOLUÇÃO do Series S as texturas são extremamente instáveis e ficam indo e vindo conforme jogamos. A princípio acreditei que seria momentâneo, um bug leve, mas quanto mais jogava, maiores eram os problemas, o que gerava muita distração da experiência.

A alternativa é jogar no modo DESEMPENHO, neste modo não temos problemas de textura, mas temos uma qualidade inferior de iluminação e principalmente de resolução. Se jogar em um TV 4k o problema da resolução fica bem aparente, com o jogo com um aspecto borrado, lembrando os velhos tempos do Xbox One.

Até um mês após o lançamento do game, não tínhamos uma forma plenamente satisfatória de aproveitarmos esta maravilha. Foi a partir da segunda atualização que finalmente melhoraram a qualidade de imagem do modo DESEMPENHO, e agora posso recomendar este modo sem ressalvas. A atualização trouxe diversas melhorias gráficas que já deveriam estar lá desde o lançamento, mas como dizem, antes tarde do que nunca.

Já o modo RESOLUÇÃO permanece quebrado até a publicação desta análise, com uma taxa de quadros baixo e com a frustrante inconstância das texturas, não recomendo para ninguém jogar neste modo. Por vezes me peguei pensando se não estava jogando o original de 2005, pelo menos a sensação de nostalgia era bem real.

 

Veredito

Resident Evil 4 (2023) é o remake que muitos acreditavam não ser necessário, mas que todos deveriam jogar. Melhora praticamente tudo que o original havia feito lá em 2005 e ainda traz novas mecânicas para a franquia. Uma pena que na sua versão do Xbox Series S o jogo tenha tantos problemas técnicos e bugs que acabam por tirar o brilho desta grande produção da Capcom.

O jogo foi analisado no Xbox Series S em cópia digital adquirida pelo próprio autor. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo.

Colaborou com a revisão deste conteúdo: João Alves


Veja também:

Pontos Positivos:
Exploração;
Equilíbrio entre ação e terror;
Level Design;
Boa dificuldade.
Pontos Negativos:
Modo Resolução com muitos problemas;
Alguns bugs de áudio;
Ter que esperar atualização para jogar de forma adequada.
8