Arte: Frank Alcântara

Análise – Resident Evil Village (PC)

Você pode até achar que tem experiência com vilarejos afastados por ter enfrentado os ganados de Resident Evil 4, só que Resident Evil Village, no entanto, leva a temática a um nível totalmente superior e continua a história dos sobreviventes da Louisiana. Mia e Ethan Winters resistiram ao pesadelo na propriedade dos Bakers, mas um capítulo ainda mais assustador envolvendo os personagens devolve à série um ar sombrio e uma beleza jamais antes vista.

Bem-vindo à vila, forasteiro

Como sucessor de Resident Evil 7, Village teve o desafio de melhorar mecânicas do título anterior ao mesmo tempo que se viu no dever de criar novas experiências para o survival horror da atual geração de consoles e gamers.

O título mais recente da série chamou atenção desde os primeiros materiais divulgados. Sua premissa nunca antes abordada dividiu opiniões e, ao mesmo tempo que interessou a muitos, fez torcer o nariz de outros.

O marketing

Desde então, muito se falou sobre como a série se desviou de sua essência. No entanto, a CAPCOM pode ter triunfado uma vez mais em mostrar que a franquia pode coexistir entre diversos temas desde que o jogo leve consigo a essência de tudo que nos cativou desde o primeiro título. Cutscenes dando apenas um gostinho do que enfrentaremos no jogo também trouxeram personagens que se tornaram icônicos antes mesmo do lançamento e que cativaram muitos curiosos para saber mais sobre a origem macabra deles.

Mecânicas do jogo

Apostando no que deu certo e investindo em uma roupagem nova para um terror antigo, o jogo busca ter seu espaço entre os fãs de longa data e também entre os não conhecedores da série.

O jogo agora lhe permite tramar investidas em hordas de inimigos e mandar eles pelos ares, ao mesmo que dá opções e meios de gerenciar itens e poupar munição, algo essencial para a sobrevivência.

Quem retorna à Village é o inventário totalmente organizável de Resident Evil 4.  Não ter espaço para itens agora é uma questão resolvida movendo algumas coisinhas – e para o lugar certo.

Armas continuam sendo necessárias e a vantagem de poder escolher entre estilos de combate de acordo com a munição é algo que me agradou.

Embora as mecânicas sejam familiares, uma espécie de mira auxiliar tornou a experiência pouco desafiadora e um tanto quanto frustrante. Não conseguir mirar livremente sempre me fez perder alguns tiros valiosos.

Os cenários

A vila situada no meio do nada me fez recordar de uma pequena vila abandonada no interior de São Paulo. Ela ficava na cidade do Espírito Santo do Turvo, local onde viajei algumas vezes para visitar a família quando criança.

A sensação de um silêncio total do lugar é quebrada por sons de madeira rangendo e barulhos que parecem passos vindo de todas as direções. Cada movimento se torna mais calculado conforme se progride por entre o vilarejo.

A vila pode parecer pequena, mas se engana quem acredita ser um local de passagem curta. Além de inimigos locais que não são lá fãs de forasteiros, o jogo traz de volta a necessidade de itens e exploração para que se possa progredir… Ei, aquele arbusto parece diferente desde a última vez?

O jogo também te leva a locais fechados e estreitos como o castelo Dimitrescu. Dentre depósitos escuros e úmidos de um bom vinho tinto à aposentos aconchegantes até mesmo para uma mulher de mais de 2 metros, o local tem um tom gótico e ao mesmo tempo dramático. Realeza é outro nível né, amores?

Ao longo do jogo, seu progresso abre acesso à locais já antes vistos de longe, tornando a revisitação de cenários algo com que logo se acostuma ao transitar constantemente entre uma área e outra. O choque entre diferentes locais do jogo pode ser sentido não apenas no visual, mas também no ritmo e na maneira que se joga, já que cada lugar novo oferece um desafio diferente de sobrevivência nesta vila não tão deserta.

Inimigos

Falando em inimigos, os assustadores homens-lobo podem ser um desafio em grupo, além de adorarem fazer pressão psicológica. Caso pretenda prolongar sua estadia na vila, é bom andar com uma ou duas cabeças de alho no bolso. Só por precaução!

Tal qual os mofados de Resident Evil 7, inimigos mais perigosos e mais desafiadores estão presentes. Uma variedade maior de inimigos também é destaque no jogo.

Boss fights continuam brilhando em momentos dramáticos e se tornam ainda mais marcantes com o desenvolvimento de Ethan e a maneira como o jogo nos mostra a “humanidade” do personagem.

No entanto, em alguns aspectos, as lutas podem não ser tão desafiadoras, deixando o sentimento de recompensa menor em relação ao título anterior.

Puzzles e exploração

Puzzles! Ah, os queridinhos de muitos estão de volta e com um ar renovado. Um misto de novos puzzles e alguns velhos conhecidos – senti uma boa dosagem entre exploração e ação.

Trazendo muito mais significado e simbologia, os puzzles e momentos de menos ação no jogo nos permitem “respirar” mesmo que por pouco tempo enquanto somos esmagados por uma beleza local e pitoresca trazidos pela RE Engine.

Alguns puzzles são versões ainda melhores da experiência que tivemos no 7, enquanto outros te fazem recordar com carinho dos que ficam guardados numa caixinha dentro dos nossos corações ao longo de 25 anos da franquia ❤️.

Personagens memoráveis, como a própria “Lady Vampirona” e o Mercador, deram um ar de mistério e me deixaram curioso sobre as origens de cada figura presente no game. Outros personagens também chamam a atenção em suas características e personalidades únicas.

Todo esse cuidado com eles torna a exploração muito mais atrativa.

Ao jogar, me senti com mais liberdade de me mover pelo mapa, sendo possível seguir os objetivos principais apenas, ou garantir que nenhum item ficou para trás antes de pedir um moto táxi para bem longe dali. Isso me deixou feliz, pois senti aquela velha sensação de saber e conhecer cada canto do jogo, fazendo com que eu progredisse naturalmente ao já saber quais caminhos poderiam me levar ao objetivo do jogo. Outro ponto que me agradou, foi a falta de muitas dicas, algo que se manteve já do título anterior, tornando as partes de menos ação muito mais satisfatórias e interessantes. E você aí achando que descobrir o propósito do dedo do manequim era uma tarefa difícil.

Vozes em português

Após tanta espera, a dublagem oficial em um jogo de Resident Evil é um baita presente para os brasileiros. Com vozes que encaixam muito bem com os personagens, o game cuidou em deixar cada um brilhar na interpretação das falas, fazendo com que seja muito mais fácil simpatizar e notar com mais clareza como a vila e seus pesadelos impactam no psicológico de cada um deles. Com um trabalho que transparece esse cuidado e carinho, as vozes em português são um dos maiores destaques.

Com um enredo misterioso e monstros assustadores de visual grotesco, Resident Evil Village te joga de cabeça num pesadelo onde um passado cheio de mistérios se choca com o presente tenebroso e cheio de revelações.

O jogo foi analisado no PC em cópia digital cedida pela Capcom Brasil. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo, e sim do autor da análise.

Revisão do texto: Natália Sampaio

Confira as outras análises de Resident Evil Village no REVIL:

Análise – Resident Evil Village (PC)
Pontos positivos
Gameplay familiar em relação ao jogo anterior;
Ambientação de cenários abertos e fechados;
Diversidade no estilo dos cenários;
Liberdade para exploração de áreas que são desbloqueadas ao longo do jogo;
Desenvolvimento de personagens principais;
O nível de drama inserido na cutscenes tornou a trama mais cativante;
Puzzles divertidos e bem trabalhados;
Referências marcantes de outros títulos da série.
Pontos negativos
Mira um pouco confusa às vezes;
Enredo promissor porém não tão explorado quanto poderia;
O save do jogo se corrompeu e foi perdido por 2 vezes ao fechar o jogo pelo comando de "fechar janela" e não pelo menu do game.
7