Arte: Frank Alcântara

Análise – Separate Ways (Caminhos Distintos) – PlayStation 4

Era inevitável que um modo tão esperado para Resident Evil 4 (2023) fosse chegar ao mundo como conteúdo adicional DLC. Trata-se de Separate Ways, que ganhou o nome de Caminhos Distintos no Brasil, e é amado pelos fãs. Estava presente na versão original de Resident Evil 4 (2005) – exceto na de GameCube – e funciona como uma campanha paralela de Ada Wong, que acontece ao mesmo tempo em que a de Leon S. Kennedy – na verdade, com algumas influências entre elas, quase como o que ocorre no segundo jogo da série (Resident Evil 2, 1998) com cenário A e B.

Felizmente a aventura de Ada na Espanha chegou mais rápida que a última DLC de um jogo canônico, que fez os fãs esperarem quase 1 ano e meio, com Sombras de Rose (Shadows of Rose), o complemento de Resident Evil Village.

Com mudanças significativas em relação ao original, é hora da espiã mostrar a que veio em Resident Evil 4 remake!

O outro lado da moeda

Assim como no jogo original, Separate Ways complementa a história principal, mas desta vez através da perspectiva de Ada Wong. Isso oferece uma visão única dos eventos que ocorrem paralelamente à jornada de Leon, adicionando profundidade à narrativa. Graças a isso os jogadores podem experimentar os eventos pelos olhos da espiã, descobrindo seus objetivos, suas ordens, frustrações e dificuldades para concluir sua missão, tudo isso enquanto ainda ajuda Leon em diversos momentos, salvando a vida do agente americano mais de uma vez.

Sua campanha conta com 7 capítulos curtos, mas muito bons para sua trama, com o DLC tendo entre 5 e 6 horas de duração, em um ritmo obviamente mais apressado que a jornada de Leon, mas ainda assim bem coeso com sua proposta.

Além dos caminhos  percorridos por Ada que complementam a história principal, ainda há alguns arquivos que adicionam mais detalhes aos eventos na Espanha.

Uma das mudanças notáveis é a maior participação de Albert Wesker nos eventos da campanha de Ada. Embora ele seja o “chefe” da espiã na missão, Wesker aparece mais vezes que na versão original, adicionando um novo nível de interação entre os personagens e expandindo a trama.

Luis Serra também aparece bastante no DLC, tal qual foi sua participação na campanha principal, onde ganhou um destaque maior. Com seu bom humor e carisma ele rouba a maioria das cenas em que aparece e tem um ótimo dinamismo com Ada.

Mais tecnológica que nunca

Certamente muitos fãs perceberam que alguns cenários do clássico não estavam presentes na campanha de Leon, mas o que talvez nós não imaginávamos é que alguns deles seriam aproveitados para a campanha de Ada. Como não havíamos visto isso na campanha principal, não sabíamos exatamente o que esperar ao nos depararmos com estes cenários sob a visão da espiã, já que muito foi alterado em diversos aspectos de sua versão original, mas que como um todo ficou muito bom.

Uma nova mecânica interessante adicionada foi o I.R.I.S (Sistema de Inquirição Retínica Interativa), uma lente tecnológica que Ada usa para ver o que normalmente não poderia ser notado. Isso dá a Ada um ar de espiã mais tecnológica do que o ela já possui e, em alguns aspectos, me lembrou um pouco o dispositivo de Jill Valentine em Resident Evil Revelations, só que bem melhor.

O famoso gancho (Grappling Gun) está presente e expande suas mecânicas de uso, permitindo que Ada execute golpes físicos quando os inimigos estão atordoados. Essa é uma escolha acertada, pois faz sentido usá-lo também em combates, não apenas para acesso a áreas difíceis, como no jogo original. No mais, a jogabilidade de Ada não se difere muito de Leon, podendo fazer tudo que o agente faz e até mesmo um pouco mais.

Outra figurinha carimbada é o Mercador, que passa a oferecer seus serviços estranhos a Ada também, mantendo o sigilo de seu outro cliente, como ele mesmo diz. Até mesmo as side quests (missões secundárias) podem ser encontradas e concluídas durante a jornada da espiã.

As pedras no caminho

Como nem tudo é perfeição, assim como existem deslizes na campanha de Leon, a jornada de Ada também sofre com isso. Um dos pontos que mais me incomodaram foi uma infecção totalmente forçada para a espiã, com o intuito de ser usado apenas nas lutas contra um chefe recorrente, tornando isso totalmente desnecessário para o contexto e narrativa. A mecânica que a infecção apresenta não passa de uma tentativa artificial de aumentar a dificuldade durantes as batalhas contra este chefe específico, que em sua luta final é totalmente descartada.

Como dito antes, Separate Ways e a campanha principal se entrelaçam em diversos momentos, onde uma tem um pouco de influência sobre a outra, mas diferente do original os momentos em que Ada – salva a bunda – auxilia Leon ou, pelo menos, observa os movimentos do agente estão reduzidos. Isso pode diminuir a sensação de conexão entre as duas campanhas em alguns momentos.

O que leva a outro ponto negativo, considerando justamente este entrelaçamento das jornadas, pois embora elas se passem paralelamente, a falta de coerência na disposição do ambiente entre as campanhas de Leon e Ada é nítida e sem sentido. As inconsistências na disposição de locais e obstáculos na campanha de Ada em comparação com a de Leon não fazem sentido quando sabemos que o agente já passou por ali, e pior, voltará por ali, pois o backtracking força a isso. Isso prejudica a sensação de continuidade e impacto mútuo entre as histórias, afetando a coesão da narrativa além das cutscenes.

Entendo que parte destes bloqueios ridículos são para forçar uma linearidade da campanha, mas poderia ter sido feito de forma diferente, como no original em que Ada sabe que não pode seguir por determinado caminho, ou irá cruzar com Leon/se desviar de seu objetivo. Esse mal gerenciamento de campanha já pôde ser experienciado em Resident Evil 2 (2019), com as segundas jornadas de Claire Redfield e Leon que não tem nenhum impacto uma na outra, sendo muito piores se comparadas à do DLC.

Missão Cumprida 

O novo conteúdo adicional DLC, Separate Ways (Caminhos Distintos) traz várias mudanças em relação ao jogo original, algumas das quais são bem recebidas, enquanto outras podem dividir opiniões. A narrativa expandida, a interação entre personagens e as novas mecânicas contribuem para uma experiência enriquecedora, embora algumas inconsistências na disposição do ambiente possam afetar a coesão geral da história.

Ainda assim é um complemento indispensável à campanha principal, oferecendo ao jogador mais respostas, profundidade da história e uma nova experiência na pele de Ada.

O jogo foi analisado no PlayStation 4 em cópia digital cedida pela Capcom Brasil. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo, e sim da autora da análise.

Colaborou com a revisão deste conteúdo: Ricardo Andretto

Pontos positivos:
Maior participação de Wesker e Luis;
Ótimas mecânicas com o Gancho e o I.R.I.S.
Pontos negativos:
Falta de coerência na disposição do ambiente na campanha;
Infecção forçada da personagem para justificar a aparição recorrente de um chefe.
8