A Capcom vive um de seus melhores momentos na indústria dos games. Lançamentos recentes como Monster Hunter: World e Resident Evil 2 conseguem claramente comprovar esse fato. Devil May Cry 5 chega ao mercado para consolidar de vez a boa fase, trazendo uma experiência única e satisfatória até demais para todos os amantes da saudosa porradaria brutal, unindo o melhor de todos seus jogos anteriores – inclusive de DmC, da Ninja Theory. Confira a análise de Devil May Cry 5 neste Conexão Capcom que tá Sick Style, baby!
Enredo envolvente com gostinho de quero mais
O primeiro Devil May Cry é famoso por ser o pai do Hack’n’slash e, na mesma proporção, também é famoso por deixar até mesmo os fãs de longa data perdidos na linha temporal da franquia. Apesar de ser um jogo popular, o título peca ao deixar a história clara. O enredo bagunçado, principalmente do segundo game da franquia – que de longe é o mais confuso – também deixa os fãs poucos satisfeitos, o que torna a porradaria uma maquiagem para histórias fracas e desinteressantes.
As coisas melhoram e muito a partir de Devil May Cry 3 não só no quesito enredo, mas também na gameplay. Uma grande prova disso é o reboot lançado pela Ninja Theory, que pode não ter a melhor história da franquia, mas em termos de jogabilidade, é inegável dizer que há um polimento muito bem feito em relação aos outros jogos.
Devil May Cry 5 é uma sequência direta do quarto jogo da franquia e dá continuidade aos acontecimentos de seu antecessor. Conta a história de Dante, Nero e do misterioso V, personagem que procura a ajuda de Dante para poder derrotar o temido Urizen, o rei demônio.
O jogo tem uma clara evolução em termos de enredo e imersão e é, de longe, o mais bem construído entre as histórias da franquia. Há um começo, meio e fim, com a história apresentada de forma totalmente minuciosa, com datas e até mesmo horários de acontecimentos. Começa do meio, vai mostrando todos os acontecimentos nos mínimos detalhes, até chegar de onde começou e dar continuidade na jornada dos três caçadores de demônios.Nero é um personagem muito melhor construído em relação à Devil May Cry 4. Podemos dizer que os fãs que antes o odiavam sua arrogância e nariz empinado, talvez simpatizem com o jovem neste jogo. Sua fiel escudeira, Nico, é a personagem mais cômica do quinto título – tenho certeza que os diálogos dela vão proporcionar boas risadas a vocês. Ao contrário do que a maioria acha, a relação dos dois está mais para irmãos do que para amantes, e isso deixa a interação deles muito ácida e cheia de piadas de mal gosto – e isso é demais.
Dante é o mesmo velho caçador de demônios de sempre, só que agora mais experiente do que nunca. Dante tem uma espécie de “velho amigo”, que é mais como se fosse um cara que arruma os trabalhos para ele e claro, o ajuda a pagar o aluguel. Ao lado de Lady e Thrish, Dante é chamado para expulsar Urizen do mundo dos humanos e trazer a paz novamente para a terra. Urizen é o rei do sub-mundo, uma criatura extremamente forte e impiedosa. Ao lado de suas “minas fodas pra c*” (segundo o próprio Dante), sua tarefa é derrotar o rei demônio e o mandar de volta para o lugar de onde veio.
V, por sua vez, é o mistério que envolve a trama do jogo. Ele aparece junto de Morrison (agente de Dante) pedindo por ajuda para derrotar o rei demônio. Até aí, é tudo o que se sabe do personagem. É uma figura de poucos amigos, mas que detém um grande poder. Para o combate, ele invoca três criaturas: um Grifo, uma Pantera e um Golém. Ele conversa muito com o Grifo, que é uma criatura tagarela e muito engraçada. A relação de V e o Grifo é basicamente a mesma de Nero e Nico.
Ao decorrer da história, vocês vão descobrir a origem deste misterioso personagem e vão se surpreender. Como ele é uma das maiores incógnitas do jogo, infelizmente não posso estender a fala e acabar dando spoiler para vocês, mas ao contrário dos personagens de outros jogos anteriores da franquia, ele possui uma lore bem redondinha e completa por trás.
A história dos três personagens se entrelaçam em diversos momentos do jogo. Enquanto Nero está fazendo um caminho, V está num caminho oposto enfrentando outros tipos de inimigos. É possível, em alguns momentos, ver os personagens de longe em batalha. Esse fator foi essencial para inserir o modo online dentro do jogo. Enquanto você está com um personagem, outro jogador está fazendo o percurso com outro personagem diferente.
Como dito acima, o enredo do jogo é o mais bem construído e envolvente até o momento. Os protagonistas estão mais carismáticos, as situações estão mais “pés no chão”, e até mesmo os personagens secundários estão bem mais aprofundados e isso contribui para uma experiência super descontraída e bacana. Joguei 14 horas de Devil May Cry 5 quase que sem parar e nem percebi – só fui ver quando tinha terminado.
Hack’n’Slash robusto e em boa forma
Que Devil May Cry faz escola de Hack’n’slash, disto ninguém tem dúvidas. Consolidar um estilo de jogo e inspirar tantas outras franquias como Bayonetta, por exemplo, é uma tarefa que não é para qualquer um. Mais uma vez, a equipe de desenvolvimento do jogo conseguiu ir além e apresentar a evolução do próprio gênero.
Combates com uma variedade extensa e quase infinita de combinações de combo mostram que Devil May Cry 5 aprendeu bastante com DmC. No game é possível jogar com os três personagens e o melhor de tudo é que cada um possui sua especialidade, deixando a experiência mais dinâmica. Acho que tudo isso se deve um pouco também ao poderio da RE Engine (tecnologia também empregada em Resident Evil 7 e na releitura de Resident Evil 2) que proporciona belos visuais e gráficos mais próximos da realidade.
Muito do que vemos de outros jogos se manteve, como a loja de habilidades e itens. É possível fazer upgrades em várias habilidades e armas, abrindo mais uma vez a extensa lista de possíveis combos. O modo de adquirir essas habilidades é o mesmo de sempre: Orbes vermelhos, que podem ser adquiridos conforme você for jogando ou até mesmo em um pequeno sistema de micro-transação, onde é possível pagar com dinheiro real e adquirir estes Orbes mais facilmente.
Os lugares de acesso a esses upgrades mudaram um pouco: é possível acessar estátuas que se encontram durante a gameplay, no início de cada missão, ou simplesmente encontrar uma cabine telefônica e ligar para Nico, que vai correndo com sua van para onde você estiver, independente se for na cidade ou até mesmo no fim do mundo.
Um detalhe estético relevante do game foi a inicialização das missões. No estilo de Resident Evil 6, os personagens ficam em uma espécie de plano de fundo, interagindo entre si. Quando existe a opção de escolher com qual personagem você quer jogar, uma tela de seleção aparece.
Nero
Nero mantém um pouco de sua particularidade de Devil May Cry 4 e continua com o mesmo estilo de jogabilidade de seu antecessor. Mas nem tudo é tão semelhante assim, o jovem caçador de demônios perdeu seu braço demoníaco para uma entidade misteriosa, fazendo com que ele tenha que usar braços mecânicos desenvolvidos por Nico, chamados de Devil Breakers. O jogo soube aproveitar muito bem essa parte do enredo: o protagonista perdeu sua principal peculiaridade que era seu braço demoníaco, mas em compensação ganhou diversos braços mecânicos e todos eles possuem alguma utilidade diferente e um poder específico.
Buster Arm, Overture, Gerbera, Punch Line, Tomboy, Ragtime, Helter Skelter, Rawhide e Mega Buster – essas são algumas das opções de braços mecânicos disponíveis para Nero. São os mais variados poderes possíveis: alguns explodem, outros viram um skate futurista e outros até param o tempo, trazendo uma infinidade de combos para o personagem. Um detalhe interessante é que quando ele usa o Mega Buster – braço do Mega-Man que pode ser adquirido na versão Deluxe de Devil May Cry 5 – ele pula e desliza igual o robozinho mais famoso da Capcom, e esse é um pequeno detalhe que adiciona uma dose de nostalgia ao game.
Infelizmente as Devil Breakers são descartáveis, ou seja, as armas têm um tempo de uso. Logo depois de usar um dos braços no poder máximo, o item quebra e deixando Nero maneta, literalmente. Mas nem tudo é tristeza, é possível encontrar os braços (ou quase que recargas deles) nos cenários dos jogos, ou até mesmo comprar na loja da Nico.
Dante
Dante é o macaco velho da franquia e, claro, o protagonista mais famoso e estiloso da porradaria. Dante retorna em Devil May Cry 5 quase da mesma forma que foi colocado no quarto título, podendo alternar os estilos de combate no meio da briga e com uma infinidade de armas brancas e secundárias a seu favor.
A espada Rebellion e as pistolas, Ebony e Ivory, estão de volta e estão mais poderosas do que nunca. Outras armas também foram confirmadas anteriormente como o Nunchaku Cerberus e o chapéu Faust Hat. Dante também possui um novo sistema de Devil Trigger – ele vira um demônio maior e mais forte, cheio de ataques novos.
V
V talvez seja o principal fator de Devil May Cry 5 ter, de certa forma, se reinventado. Quando o gênero Hack’n’slash vêm à cabeça, acredito que a maioria das pessoas imaginem estilos de lutas com espadas, armas e talvez até na porradaria. O que ninguém imagina é um mago neste gênero – sim, caros leitores, DMC5 inseriu um mago em um Hack’n’slash.
Vamos do começo. V consegue invocar espécimes de lacaios, sendo eles: Grifo, Pantera e Golém. Cada um exerce uma função dentro da gameplay. O Grifo é como se fosse uma espécia de arma, com ataques a longa distância, já a Pantera serve no combate corpo-a-corpo e o Golem é quase como um Devil Trigger. V invoca suas criaturas e fica de longe desviando de possíveis ataques dos monstros, enquanto suas invocações fazem o seu trabalho sujo.
Todos possuem uma barra de vida. Quando algum deles morre, V precisa esperar um certo tempo até que os Orbes – espécie de coração de suas invocações – voltem novamente. O Golem é a Devil Trigger de V. Quando o personagem o invoca, o gigante aparece dos céus caindo na direção dos inimigos e fazendo um belo de um estrago na briga. Quando os inimigos estão prestes a morrer e ficam vulneráveis, V se aproxima para dar o golpe final com sua bengala.
Jogar com V é uma experiência única e peculiar, isso o torna detentor de uma mecânica inovadora que abre um leque de possibilidades para os futuros jogos da franquia Devil May Cry.
O poder da RE Engine
Se o diabo chora eu não sei, mas com certeza ele iria chorar se visse o quão magnífico ficaram esses gráficos de Devil May Cry 5, mimos que somente a RE Engine pode nos proporcionar. Depois dos excelentes trabalhos com a tecnologia em jogos como Resident Evil 7 e Resident Evil 2, o mesmo foi feito pela Capcom com Devil May Cry 5.
- Leia também: ANÁLISE – Resident Evil 2 Remake
O game foi analisado em um PlayStation 4 convencional (não o PRO) e a única ressalva é uma pequena queda de quadros, ou frames per second (FPS), em alguns momentos em que o jogo apresenta grande quantidade de informações e detalhes, mas é quase imperceptível. Quando fui convidado pela Capcom para jogar a demo, tive a oportunidade de jogar em um Xbox One X, que atualmente possuí o melhor hardware para situações com 4K a 60 Fps, e posso dizer que a experiência visual neste aparelho é sensacional. Segundo informações de alguns parceiros, que também analisaram Devil May Cry 5, o aparelho da Microsoft consegue rodar o jogo a 4K nativo e 60 Fps cravados.
O título é rico em detalhes, em poderes, em combos, e é visualmente lindo. Características, como o cabelo de Dante, deixam qualquer um de queixo caído – cada fio se meche minuciosamente para os lados. As armas estão com visuais estéticos bem polidos, e isso deixa a gameplay muito leve e envolvente – até os Orbes dentro do jogo tiveram um tratamento e estão de cara nova e nesse pequeno detalhe, a Capcom ganhou pontos.
Veredito
Devil May Cry 5 é, com toda a certeza, o melhor Hack’n’slash já feito na história. A riqueza do enredo torna o título bastante envolvente. Alguns jogos da franquia são considerados massantes por deixar situações surreais demais ou não prender tanto os fãs com a história. Já nesta sequência, eu literalmente joguei 14 horas seguidas e acabei não sentindo problemas como esses. A cada capítulo terminado, a história ficava mais interessante e me prendia conforme eu ia jogando – não deu para parar até acabar.
Em termos de gameplay, o jogo conseguiu dar uma inovada inserindo V na trama, e deixando ele como personagem jogável e tão importante quanto Nero e Dante. Cada personagem possui a sua característica e eles exercem suas respectivas funções dentro do jogo – isso só ajudou para que o game não ficasse repetitivo como seus antecessores.
Graficamente falando, o título está impecável. Não existe pontos negativos neste quesito a não ser a pequena queda de frames, que é naturalmente normal em um jogo deste calibre. Os combos estão esteticamente lindos e os monstros estão mais “pés no chão” – quando digo isso, eu me refiro que não estão exagerados e nem extravagantes, estão na medida certa. Os modelos que usaram para montar os personagens também não foram nada extremamente radicais e todos estão fiéis a suas versões anteriores.
Talvez, as pequenas ressalvas do game estejam em problemas com as câmeras, que em algumas vezes não obedecem 100% e acabam girando rápido demais, daí é possível o jogador levar algum ataque de inimigos ou algo parecido. Um modo extra também é outra ressalva: há o Blood Palace – sistema de turnos parecido com um arcade – que será lançado apenas em abril. Ou seja, se você zerar o jogo rápido demais, talvez fique órfão de conteúdo novo até lá. Mas isto não interfere em nada na compra, por que o jogo detém um fator replay considerável.
Devil May Cry 5 foi analisado no PlayStation 4 em cópia digital cedida pela Capcom Unity Brasil. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo, e sim do autor da análise.
CONEXÃO CAPCOM é um espaço dentro do REVIL onde publicamos textos sobre outras franquias da empresa.
Além de jogar Devil May Cry 5 por completo, nós também conversamos com Michiteru Okabe, produtor sênior do novo título da franquia. Confira:
Devil May Cry 5 será lançado no dia 8 de março para PlayStation 4/PS4 PRO, Xbox One/Xbox One X e PC (Steam). No Brasil, o título chega com legendas em português.