Acima vocês podem conferir a análise em vídeo, o conteúdo é o mesmo do texto abaixo.
Como vocês sabem, durante a conferencia da Sony na E3, foi anunciado o tão esperado Resident Evil 7. Com compatibilidade – mas não obrigatoriedade do uso dos óculos de Realidade Virtual, o trailer e a demo apresentaram um clima antes nunca visto em Resident Evil, um terror que beira o psicológico, com gameplay em primeira pessoa lembrando muito jogos como o PT – teaser de Silent Hills, Outlast, Amnesia e Alien Isolation.
Eu falei que o terror da demo de RE7 beira o psicológico porquê embora a gente não veja nenhuma arma biológica durante a demo, o foco do terror é algo que a gente já tá bem acostumado em RE, o gore: mortes, mutilações, sangue, cenários completamente sujos, lotados de elementos e bagunçados, e acima de tudo escuros.
Quando vi o trailer, imaginei que os fãs fossem ficar bastante divididos quanto ao que foi mostrado, e vejo que de fato isso acontece mas em menor proporção do que imaginava. Embora muita gente esteja reclamando que isso não é RE, do uso da realidade virtual, do gameplay em primeira pessoa, da ausência de BOWs, de personagens conhecidos, uma coisa muito importante precisa ser dita: a demo NÃO faz parte da versão final do jogo. Ela é na verdade uma apresentação CONCEITUAL do que virá de fato em RE7.
De acordo com entrevista dos produtores, eles identificaram a necessidade de se modificar a mecânica do jogo para primeira pessoa para aumentar a imersão e consequentemente o horror e a sensação de vulnerabilidade e o medo. Dessa forma, fica claro que RE7 será mesmo um jogo em primeira pessoa, mas detalhes sobre sua história, personagens e a forma que ele se encaixará na história global de RE, ficam em suspenso, e novas informações não devem demorar a aparecer.
Se a ideia da Capcom era causar imersão e medo, ponto para a empresa. Mesmo testando a demo sem usar o periférico de realidade virtual, a demo de RE7 causa calafrios a cada passo. Cada nova sala, escura e com ambiente absurdamente tétrico são um desafio aos instintos de sobrevivência do jogador. Depois de muito tempo, finalmente temos de volta a sensação de que tudo que está presente nos cenários está ali por um único motivo: o de agredir e atormentar a mente dos jogadores. A última vez que experimentamos sensação semelhante em RE, foi com o Remake do primeiro jogo, e embora eu não seja nem um pouco fã de jogos em primeira pessoa, não há como negar que esse tipo de câmera nos joga muito mais para dentro daquele clima, uma vez que somos compelidos a nos colocar na pele do personagem de uma forma muito mais intensa do que jogos que usam outro sistema de câmera.
A demo também mostra que os puzzles voltarão. Uma pequena amostra foi dada durante essa pequena demonstração, com os vai-e-vens atrás de itens, a experimentação de caminhos diferentes. Aliás, os finais possíveis da demo, mostram que a ordem dos fatores altera o resultado, e isso deve ser um importante fator durante as ações no jogo, isso denota inclusive as raízes da franquia, onde era importante realizar as coisas em uma determinada ordem, para poder prosseguir na história.
A demo e o trailer trazem algumas referências a história dos jogos anteriores. Temos uma foto de um helicóptero com o simbolo da Umbrella ao lado do telefone no sótão da casa; é possível encontrar uma gazua (lockpick) durante a fita de vídeo e esse é um dos itens clássicos de Jill Valentine; no trailer vemos um homem magro e aparentemente debilitado em uma cadeira de rodas o que imediatamente nos remete a Ozwell Spencer; e sempre que o velho nos pega, ele dá boas-vindas a família, mensagem que é repetida ao final da demo, e isso pode ser uma referência direta a organização conhecida como A Família, da qual Derek Simmons fazia parte.
Outra coisa interessante dessa demo, são as diferentes mensagens que podem ser ouvidas ao atender o telefone no sotão, a impressão que dá, é que são mensagens da Capcom para os fãs. Frases como “Eu sei quem você é.”; “As memórias contém a verdade. Não deixe as aparências te enganarem.”; “Você terá que dizer adeus no devido tempo. Será que você estará pronto?”; “Você tem o poder de escolha, mas o resultado dessa escolha pode não ser o que esperava”, dão a impressão de que a empresa está falando conosco, dizendo que sabe quem são os fãs de Resident Evil, que a verdadeira essência de Resident Evil estão nas nossas memórias, no passado da franquia, que as aparências (da demo?) pode enganar, e que talvez seja hora de dizer adeus ao que conhecemos da franquia para vivenciar uma nova experiencia, e até mesmo de que temos o poder de escolher qual será o futuro de RE através de nossas opiniões, mas que o resultado pode não ser o que esperamos, como inclusive é essa surpreendente demo de Resident Evil 7, algo que ninguém esperava, mas que particularmente, me agradou bastante.
Resident Evil 7 The Beginning Hour é uma grata surpresa. Por conta dos últimos lançamentos da franquia numerada, não acreditava que a Capcom poderia trazer RE de volta para sua casa, para o horror de sobrevivência, felizmente a empresa voltou a me surpreender depois de muitos anos. Com certeza, há aqui inspirações evidentes no PT de Silent Hills, Outlast, Amnesia, Until Dawn e talvez até em Alien Isolation. Ainda me preocupa o fato de que RE continua não sendo mais uma franquia de vanguarda, uma franquia que dita o mercado, que insere mecânicas e que se torna referência no mercado, como aconteceu até o lançamento de Resident Evil 4.
Apesar disso, é importante notar que a Capcom finalmente deixou para trás a fórmula já desgastada que foi inserida em RE4, e assim como foi feito por Mikami, os produtores decidiram que era hora de mudar e novamente revolucionar a franquia, e depois de mais de uma década com foco na ação, voltaremos a vivenciar o horror que cravou o nome da franquia entre as principais do mundo dos games.
Mas não se engane: mudar por mudar, experimentar por experimentar não é a solução. A tentativa de mudar, de experimentar novas mecânicas levaram a algumas das maiores aberrações da franquia, como Resident Evil: Operation Raccoon City e Umbrella Corps; mas com essa demo de RE7 nota-se que a Capcom está minimamente atenta aos seus fãs e ao mercado, colocando o dedo na ferida, deixando a cansada MT Framework para trás, e dando uma guinada definitiva.
A mera repetição do que estava sendo feito, poderia levar a franquia ao seu fim, a uma derrocada completa e sem volta. Não que seja uma certeza absoluta que com essa mudança a franquia esteja 100% salva e vá voltar a ser sucesso de público e crítica, mas no ponto que estava era imprescindível mudar, experimentar e dar um passo a frente. Ainda é cedo pra dizer que RE7 será tudo o que esperávamos, afinal de contas grandes mudanças são perigosas.
Resident Evil 4 revolucionou a franquia no início da década de 2000, levou a franquia a um patamar ainda mais elevado, angariou milhões de fãs mas também gerou críticas, e fez com que muitos fãs antigos deixassem a franquia de lado. Ainda assim, ele foi responsável por dar uma grande sobrevida a RE, e é exatamente isso que esperamos de RE7, que el seja surpreendente como RE1 e RE4 e que nos traga uma experiência ímpar que seja capaz de sustentar suas mecânicas por mais alguns bons anos.
O texto acima não representa a opinião do REVIL, e sim do autor da análise.