As várias betas de Resident Evil 4 | CURIOSIDADES REVIL

O clássico Resident Evil 4 (2005) tem muita história, especialmente em seu desenvolvimento. Entre as fases beta e outros testes da Capcom, algumas franquias acabaram surgindo ou se aproveitando das ideias descartadas de RE4. Confira neste vídeo as curiosidades envolvendo o jogo.

 

O texto a seguir é uma adaptação do vídeo no canal do REVIL (@revil). Considere se tornar um membro do canal e apoie a produção de novos conteúdos clicando aqui.

Que tal olharmos um pouco para trás e conhecer algumas curiosidades sobre o início da criação de um dos jogos mais marcantes de uma geração e do mercado de videogames, Resident Evil 4. A sua conturbada história começa com betas e mais betas, descartes de ideias e mais descartes, fazendo até mesmo com que novas franquias da Capcom surgissem por aí.

Anos de planejamento e produção

Lançado em 11 de janeiro de 2005 para o Nintendo GameCube (devido exclusividade da época de um acordo feito entre a Capcom e Nintendo), RE4 teve suas primeiras ideias e esboços lá em 1998, logo após o lançamento de Resident Evil 2. Como os produtores já tinham um grupo totalmente dedicado a produção de Resident Evil 3: Nemesis, RE4 estava na mesa de planejamento e das discussões de ideias.

Porém, por causa da exclusividade cedida à Nintendo (feita após os sucessos de RE3: Nemesis e Resident Evil CODE: Veronica), a empresa foi muito criticada devido a essa escolha, fazendo com o que o projeto do RE4 se estendesse por longos e longos anos (propositalmente ou não). A partir daí, vamos nos aprofundar no desenvolvimento de RE4, fazendo um tour por suas betas.

Gameplay de beta
Gameplay de uma das betas de Resident Evil 4

Aquela beta que ninguém conhece

Em entrevista para a IGN e para a GameSpot anos após o lançamento, o produtor Hiroyuki Kobayashi afirmou que RE4 teve diversas betas durante seu processo de desenvolvimento. A primeira delas, da qual não se tem muitas informações, seria que o game seguiria toda a jogabilidade clássica, mas foi logo prontamente descartada, pois a produção queria algo diferente, buscando atualizar a franquia para a tecnologia nova que vinham surgindo.

Após o lançamento de três games clássicos, e já consolidados pelo RE CODE: Veronica, para que o 4º título não ficasse atrás de nenhum outro game no mercado, todo esse trabalho rendeu mais 4 fases e mais 4 betas.

Em questão de trama, considerando o que vivenciamos no enredo de RE CODE: Veronica, podemos até imaginar que o game traria Leon S. Kennedy meses após o seu contato com Claire Redfield via e-mail, já que a moça enviou a ele quando estava na Ilha Rockfort. Imaginar além disso é quase impossível…

O nascimento de Dante Sparda

Essa é, provavelmente, uma das histórias mais conhecidas para quem realmente acompanha a franquia Resident Evil e quer saber mais sobre suas curiosidades. Mesmo com a exclusividade da Nintendo ainda em vigor, RE4 começou a ser pensado para ser lançado no PlayStation 2. Com toda aquela tecnologia nova a favor dos produtores e pronta para ser usada, um enredo e cenários sobrenaturais estavam vindo à tona na mesa de ideias da Capcom.

Isso sairia totalmente da proposta solidificada nos quatros jogos clássicos da franquia. Então, o projeto foi deixado de lado, mas logo revivido com outro nome: Devil May Cry.

Com o primeiro game da franquia da família Sparda lançado em 2001, podemos imaginar como seria esse Resident Evil 4, com uma gameplay dividida entre mudanças de câmera fixas, lembrando os 3 games clássicos, mudando levemente em combate com uma gameplay mais movimentada e mais fluída, o hack n’ slash, como nós conhecemos hoje em dia.

Dante e Leon tem suas semelhanças na aparência, mas Dante não seria somente uma “sombra” do protagonista dentro da narrativa de RE4, Dante seria um detetive que estaria investigando assassinatos dentro de um castelo, perto do que temos agora com Luis Sera.

Arte conceitual

Além disso, Dante teria seus poderes sobrenaturais que vimos em Devil May Cry, mas sem uso da espada, porém eles seriam explicados numa forma mais científica, possivelmente com alguma infecção com algum vírus, e todas essas coisas que a gente vê na franquia Resident Evil, criando toda a trama em cima dos dois protagonistas.

O que a Capcom não esperava é que essa nova franquia faria tanto sucesso a ponto de, mesmo com o Resident Evil 4 lançado em janeiro de 2005, já teríamos também o terceiro game de Devil May Cry lançado em fevereiro do mesmo ano.

A beta com a neblina

Para quem já lembrou de Silent Hill quando escutou a palavra “neblina”, calma que é quase isso que RE4 poderia ter sido também. Com uma versão em vídeo promocional lançada na época, Resident Evil 4 teria uma vibe mais próxima ao que os jogadores viram em Silent Hill 1 e vivenciavam naquele jogo, que fora lançado em 1999. E o porquê disso? Pois toda a ambientação vista nesse vídeo remete à famosa franquia da Konami.

Além disso, o ângulo de câmera mostrado no vídeo, que seria uma mistura dos games clássicos com um novo estilo de ângulo de câmera, foi o que seria visto em Silent Hill 2 anos depois , o que seria o início do nosso querido “over the shoulder”.

Ok, mas e a trama? É aqui que a beta começa a ficar interessante. Baseado na trama contada em Resident Evil Gaiden, lançado em 2001 para o GameBoy Color, no qual Leon foi infectado pelo progenitor vírus, o que vimos no vídeo promocional seria uma consequência do final de Gaiden. As consequências que essa infecção causou seriam supostamente contadas no RE4. Um dos efeitos seria a visão escurecida e meio turva do Leon, aí explica a neblina e cenário escurecido do vídeo promocional.

Final de Resident Evil Gaiden com Leon

Leon também estaria em um estado “possuído”, invadindo o berço de toda a criação do progenitor para, possivelmente, achar uma cura. A neblina/sombra preta pelo cenário perseguiria Leon ao longo do game e se transformaria em um inimigo sólido, igual ao que vimos em Resident Evil 5 com o Uroboros.

Notável aqui é que o cenário escolhido para um possível QG da Umbrella na Europa era um castelo, algo que estaria no projeto final de RE4 e que seria reutilizado novamente na franquia, como em Resident Evil Village.

Outro cenário que podemos observar é o dirigível, sendo uma possível extensão do que os jogadores tiveram na batalha contra o Tyrant t-103 em RE CODE: Veronica. Porém, esse cenário do dirigível esconde outra curiosidade ainda melhor: um hacker, HUNKle collectionneur, que teria usado alguns códigos e descoberto o nome de salas na demo de Resident Evil 4, que seriam ainda da época dessa beta. Além disso, o dirigível também seria, na verdade, uma alucinação de Leon, que jogaríamos toda vez que ele desmaiasse!

Em uma entrevista dada pelo diretor Hideki Kamiya à revista EGM na época, ele revelou mais algumas curiosidades dessa parte do projeto: Leon possuiria um poder escondido em sua mão esquerda, sendo descoberto pelo jogador ao longo da jornada, exatamente como a gente vê o Jack Krauser na versão final do jogo.

Ele revelou, também, que o jogo desde o início teria a presença de uma mulher, mas que não seria a Ashley Graham e nem confirmando se seria a Ada Wong. Nada mais foi revelado sobre ela. Não se tinha mais informações sobre o seu papel na trama, nem se seria outra mulher acompanhando Leon em sua jornada, gerando inúmeras
especulações.

O nascimento de Fiona Belli

Com mais uma versão promocional em vídeo disponibilizada, essa parte do projeto de RE4 mostra algumas melhorias e avanços comparado a sua versão anterior, “a neblina”. No vídeo, conseguimos ver um pouco mais sobre os ângulos de câmera que o game traria, mantendo as câmeras clássicas e, quando fosse mirar para atirar/atacar, entraria no “over the shoulder”.

Nessa versão, as alucinações de Leon estariam piores. As crises do protagonista seriam necessárias para criar os inimigos dos cenários: estátuas de armaduras criando vida e atacando Leon, coisa que foi para a versão final do game, bonecas com lâmina também ganhavam vida para atacar Leon e, para a surpresa e desespero de alguns jogadores, Leon seria perseguido por uma figura fantasmagórica com um gancho em sua mão, estilo Nemesis em RE3, que posteriormente seria reduzido a aparições esporádicas do Dr. Salvador.

O jogador iria perceber que os inimigos estavam ativos pela coloração do cenário, ficando azulado, perdendo assim o
elemento surpresa no game, infelizmente…

Nessa possível batalha contra o “capitão gancho”, o jogador poderia ativar um rápido qte para se livrar do inimigo, igual ao que vimos no segundo encontro com o Jack Krauser na versão final do jogo. Outras técnicas, como explorar o ponto fraco do “capitão gancho”, que seria utilizar a luz natural do cenário, como raios de luz, por exemplo, que se tornariam algo fundamental para tornar o inimigo “corpóreo” e “sólido” para assim poder derrotá-lo com armas de fogo. Muita coisa nessa versão ainda estava faltando, como um hud contendo o número de munição, e de vida do personagem, etc., porém essa versão foi descartada e reaproveitada pela Capcom.

Leon e a ameaça com um gancho

Isso mesmo! Graças a mais uma versão não aproveitada de RE4, nasceria outro game da empresa, de menor conhecimento: Haunting Ground.

A aventura de Fiona Belli se daria pelo reaproveitamento dessa versão descartada, além de servir de inspiração para Clock Tower 3, outro survival horror da Capcom, lançado em 21 de abril de 2005 no Japão. No Haunting Ground, nós conseguimos ver semelhanças de cenários de corredores e castelos, bem como manter um ângulo de câmera parecido ao que seria em RE4 e seus games clássicos.

Gameplay de Haunting Ground

Fiona Belli tem até um companheiro chamado hewie que é nada mais nada menos que o cachorro que Leon resgata de uma armadilha na versão final de RE4. Incrível, né?

Fase final: Habemus Leon S. Kennedy

Finalmente, após betas e mais betas descartadas pela Capcom, a empresa traria a primeira demo de Resident Evil 4 para o mercado. Na versão teste do game, já dá pra perceber que pouca coisa mudou da sua versão final, sendo que algumas que valem a pena serem observadas. Ainda na demo, cada item ocuparia um slot no inventário, seguindo a lógica dos games clássicos. E os tesouros já estariam no game, mas ocupando um slot no inventário e não teriam um menu exclusivo para eles como temos na versão final.

Nessa versão/beta/demo, um item consumível faria parte da jornada de Leon S. Kennedy: silenciadores. apesar do item só estar disponível para o Albert Wesker no modo mercenário na versão final, ele seria utilizável em handguns, tpm e até na killer7. Notável aqui é que a faca seria um item “guardável” no inventário.

Duas modelagens estavam guardadas nessa versão e uma delas foi usada na reimaginação de Resident Evil 4: a roupa que Ashley está vestindo nos trailers atuais do jogo estava presente na demo do game original, que seria
um casaco, um cachecol, calça longas e botas.

Roupa de Ashley

No trailer divulgado desta versão, vemos também que o game traria um diferencial nos ganados: um chega a pular no Leon, deixando o jogo ainda mais assustador e requerendo um mais cuidado dos jogadores.

E, pelo vídeo, podemos observar que o Leon poderia resistir um pouco mais a investida que o dr. salvador dá com
sua serra ao contrário do que temos na versão como não está na versão final do jogo que o dr. salvador dá apenas um hit-kill no jogador.

Esse sistema foi apresentado na demo e foi levado para a nova versão de RE4, no qual Leon usa a faca como ferramenta de autodefesa para parar o Dr. Salvador.

Após percorrer todo esse caminho de desenvolvimento, Resident Evil 4 ficou marcado eternamente após seu lançamento. Já em 2005, o game receberia a maior honra no mercado: ele desbancou God of War e World of Warcraft e ganhou o prêmio de game do ano. RE4 é, até hoje, inspiração para diversos games lançados após 2005.

Não há como negar que a nova versão de Resident Evil 4 está caprichada e ainda trouxe muitas outras features presentes nas mais diversas demos/betas perdidas que resultaram no RE4 clássico. Além disso, dá pra notar que a dona Capcom tá reciclando algumas ideias que estavam lá guardadinhas no baú.

E é isso, pessoal! Sabiam que o RE4 tinha toda essa história por trás? Que outras curiosidades de outros jogos da franquia vocês gostaríamos que a gente falasse? Digam aí nos comentários!