Arte: Frank Alcântara

Análise – Resident Evil 4 – PlayStation 4

A onda de remakes/reimaginações da série de Resident Evil chegou enfim a seu título mais popular, Resident Evil 4. Diferente de seus jogos anteriores, não há quem não conheça RE4, já que quase todo ano ele ganha uma nova versão remasterizada e saiu pra diversas plataformas desde 2005, muitas que alguns nem conhecem hoje em dia.

O sucesso das versões anteriores, mesmo que com ressalvas, fez a Capcom ouvir em boa parte o apelo dos fãs e recriar de ótima forma Resident Evil 4, trazendo melhorias, expansões e nostalgia de modo a agradar a grande maioria dos fãs, com quase nada para se colocar defeito.

História e Personagens

Seis anos após o incidente em Raccoon City, Leon S. Kennedy, agora agente do governo dos Estados Unidos, foi enviado pelo presidente para resgatar sua filha, Ashley Graham, que havia sido sequestrada. Sem muitas pistas, ele vai para a Europa à procura da jovem, que teria sido vista em um pequeno vilarejo na Espanha.

Lá ele não demora a descobrir um povoado se comportando de forma estranha e fanáticos de um culto local, devotos ao seu senhor e salvador.

Soa familiar essa história? Um pouco, não? Adivinhem de onde o Resident Evil Village surrupiou 90% da sua inspiração?! Sim, de RE4! A Capcom se auto copiou. Sabe aquele lance do: “Copia, mas não faz igual”, foi exatamente isso o que aconteceu. Ao menos ela não pode se processar por isso

O enredo em si teve poucas alterações, os eventos importantes estão todos ali, ou seja, sem grandes surpresas para quem jogou o game de 2005. É claro que algumas adaptações foram feitas, principalmente por manterem muitas coisas mais pé no chão, tirando boa parte das situações absurdas que pareciam ter vindo direto de um filme de ação forçado dos anos 90. E pasmem, isso ficou bom – em grande parte pelo menos.

Os diálogos foram melhorados, assim como a interação entre os personagens e os próprios personagens em si. Confesso que apesar da melhora positiva em questão de não haver mais cenas tão absurdas, algumas das mais icônicas, parecem não ter mais o charme de antes, mas provavelmente isso seja só minha nostalgia falando…

O mais bacana de toda essa adaptação elaborada é que seguiram colocando praticamente tudo que estava no original, porém de uma forma um pouco diferente. No início parece que tem algo faltando, mas aos poucos o jogo vai te convencendo que está tudo ali e de fato está. Foi pouquíssimo deixado de fora e da forma que foi feito nem parece que estão faltando, não existe realmente nada grave para ressaltar, como foi o caso Resident Evil 2 e principalmente Resident Evil 3. Inclusive tem até cenário perdido de outro jogo que ficou sem.

Vários personagens ganharam uma repaginada para a nova versão, sendo Ramon Salazar o mais diferente da versão original, pelo menos em aspectos visuais. Na grande maioria, foram apenas pequenos detalhes ajustados em roupas e seus visuais, não sendo nada tão chamativo. As personalidades também continuam em sua maioria as mesmas, mas muito mais trabalhadas e melhoradas.

Um ponto positivo pra Capcom quanto a isso, já que em Resident Evil 2 (2019) houve um desvio inexplicável sobre a personalidade, a interação entre os personagens e até alguns aspectos de enredo que ficaram bem distintos do original.

Unico ponto a ressaltar de forma negativa quanto aos personagens, é a pouca aparição de Ada Wong, deixando seus fãs bem tristes – o que me inclui nisso. Ela ainda está presente em cenas importantes, mas infelizmente cortaram uma boa parte de sua participação.

Eu sei, todo mundo está muito curioso pra saber sobre a Ashley, pois quem jogou o Resident Evil 4 (2005) sabe bem como ela era incrivelmente – insuportável – irritante, mas assim como os outros personagens, ela ganhou uma ótima evolução, talvez a personagem com a melhor evolução de todos. Esperem ótimas surpresas da senhorita Graham.

Independente do quesito e da roupagem nova, será impossível não se sentir nostálgico jogando, esperando para saber como será que ficou aquela cena, aquele personagem, aquele chefe! E as surpresas são boas no geral.

Jogabilidade e mecânicas

Agora vem a melhor parte, o que há de novo nas mecânicas e jogabilidades?

Resident Evil 4, em comparação com o último título da franquia, Resident Evil Village, teve uma ótima melhora na movimentação do personagem. Enquanto Ethan Winters parecia um tanto quanto travado em alguns movimentos, Leon se move com toda uma leveza e suavidade excelentes. Os comandos são rápidos e precisos, assim como toda a jogabilidade é bem fluida e fácil de se acostumar.

Para inovar, contamos agora com 8 slots de atalhos de armas ao invés de apenas 4, e isso faz toda diferença! Embora Leon seja um pouco lento para fazer a troca de armas em si, o fato de ter 8 armas já engatilhadas para a troca é sensacional. Graças a isso os confrontos são mais rápidos, fáceis e dinâmicos, sem precisar ficar abrindo o inventário caso queira usar uma arma diferente que não está atrelada aos atalhos.

A mecânica de mortes furtivas também foi implementada e funciona relativamente bem, porém não foi a escolha ideal para um jogo como RE4. Não é segredo que ele é totalmente voltado para a ação, a intenção é chegar com o pé na porta, e resolver tudo no tiro, porrada e bomba, não combinou em nada esse estilo stealth. Por mais que seja interessante matar alguns inimigos desta maneira isso se torna insustentável aos poucos. Uma esquiva, como em RE3, combinaria bem mais com o estilo proposto do que mortes furtivas.

Outra novidade é poder usar a faca para executar um parry (defesa no momento exato que evita danos), atacar inimigos depois de pego para diminuir o dano e também finalizações. Essa implementação foi uma das melhores ideias. Graças a isso é possível se defender de inimigos e ainda contra atacá-los se o parry for executado no último segundo antes de receber o golpe. Vale ressaltar que a faca se tornou, graças a isso, uma das armas mais importantes, se não, a mais importante de todo o jogo. Ainda que cause um baixo dano, se mostrou muito eficiente para atacar e desorientar inimigos, além de ser crucial para sua defesa agora também. Percebendo que com esses recursos ela se tornaria desbalanceada, foi adicionado uma condição a seu uso, a durabilidade. Fato que já havíamos experienciado em Resident Evil 2, mas agora de uma forma mais elaborada. Felizmente é fácil encontrar muitas facas pelos cenários, além de poder consertar e melhorar sua faca inicial com o mercador..

A fabricação de itens está de volta, com certeza uma mecânica que veio para ficar na franquia, assim como as receitas, porque sem elas não dá pra fazer muito.

Ainda como parte das novidades, ao acessar a máquina de escrever, ela contém uma despensa, algo semelhante aos baús nos primeiros jogos da franquia. Ou seja, é possível armazenar armas e alguns outros itens neste lugar para liberar espaço na maleta. O melhor de tudo é que não necessariamente precisa estar na máquina de escrever para mandar os itens para lá, é possível fazer isso de qualquer lugar. Mas remotamente não é possível fazer a retirada deles. Então pense bem antes de mandar algo que possa precisar.

Mais um ponto positivo, apesar de simples, porém interessante, é a adição de side quests em formas de pedidos espalhados pelos cenários. Muitas vezes missões simples, como destruir os medalhões azuis que já existiam anteriormente e que rendem algumas moedas especiais, que podem ser trocadas com o Mercador por itens que nem sempre estão disponíveis em sua loja de pesetas.

Ele inclusive, continua icônico, com suas falas clássicas e também novas, para a alegria de todos.

Deixando as mecânicas um pouco de lado agora, é importante falar de como a IA para os inimigos ficou estranha, pra não dizer quase ruim. Enquanto inimigos comuns, como os ganados e os zealots são lerdos em reagir, em atacar e fazer qualquer outra coisa, os chefes e subchefes por outro lado se mostram bem mais inteligentes. O que torna a experiência um pouco desbalanceada em certos momentos.

Outra coisa totalmente desbalanceada é o fornecimento de munição. Nunca passei tanto perrengue por causa de munição em um Resident Evil de ação. Acho que esqueceram que a proposta é “sair metendo bala em tudo e todos” e quiseram colocar um gerenciamento de inventário mais elaborado pra um jogo que não precisa disso, parte disso culpa do modo furtivo também, para forçá-lo a usá-lo. Houve partes em que não tinha sequer uma bala, nenhuma de minhas armas, e nem mesmo recursos para fabricação, me forçando a correr no desespero. O que é outro ponto negativo, já que eles aparecem relativamente pouco.

Tentar matar inimigos à distância se mostrou uma tarefa quase impossível, quando eles estão entre algum tipo de grade, portão ou qualquer objeto de elemento vazado. Digamos que entre as frestas há um espírito sólido e resistente que não deixa suas balas chegarem até os inimigos. Não existe sensação mais frustrante que estar com um headshot engatilhado no seu rifle e as forças do além barrarem ele.

Para tentar agradar um pouco os fãs mais voltados ao terror, Resident Evil 4 possui alguns locais mais tensos e mal iluminados. A intenção foi boa e apesar disso não ser o forte para RE4, ficou interessante, já que não ficou nada forçado. As partes mais obscuras encaixam bem em seus momentos e como são poucas, não tirou o tom de jogo de ação que ele possui.

Infelizmente a única parte trágica disso é a lanterna não ser manual, deixando o jogador no escuro em alguns ambientes em que o jogo não entender serem escuros o suficiente para o uso dela.

Com a fusão do nostálgico com o novo, a duração da campanha se tornou bem maior, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. Como o original, ele é dividido em capítulos, que passam a sensação de serem muito curtos, mas ao mesmo tempo, o jogo como um todo ficou maior, consequentemente mais arrastado. Essa impressão é bem mais constante no início, até quase a metade, depois parece melhorar. Algo engraçado, já que com o título de 2005 minha sensação era justamente oposta.

Infelizmente a maior bola fora da Capcom foi não colocar seus modos extras tão aguardados. Apesar de The Mercenaries já estar confirmado, ainda não é possível jogá-lo e para piorar, não contaremos com o tão aguardado Separate Ways ou até mesmo o Assigment Ada. Possíveis conteúdos para uma DLC muito provavelmente.

Resident Evil 4 contava com mortes extremamente violentas, sofrendo inclusive censura em alguns lugares do mundo, felizmente ele ainda continua matando de forma brutal Leon! As melhores mortes vêm por meio dos chefes e subchefes, claro, mas, isso não exclui algumas mortes bem interessantes por meio dos inimigos mais comuns. Para a alegria dos jogadores os inimigos também são passíveis de tal brutalidade, rendendo bons desmembramentos e mortes violentas.

Gráficos e performance

É inegável que graficamente Resident Evil 4 está muito bom! Vale ressaltar que o jogo conta com dois modos de seleção. O modo resolução prioriza os gráficos, deixando eles no máximo de sua potência. E o modo taxa de frames mantém a melhor performance possível sacrificando um pouco da beleza.

Dito isso, ao jogar no modo resolução, é bem nítida a diferença pro modo taxa de frames, e poucas vezes notei problemas com isso. Em alguns momentos infelizmente o cenário carregava as texturas conforme me aproximava, mesmo no modo taxa de frames. Jogando em um PlayStation 4 Pro, confesso que não senti diferença entre os modos, exceto pelos gráficos em si, pois mesmo no modo resolução a gameplay não foi afetada.

Um problema recorrente que incomoda mais e acontece com uma frequência maior é o fato de inimigos vistos de longe ficarem serrilhados e em slow motion. Problema esse que vem acontecendo desde de Resident Evil 2 (2019). Ambos problemas de performance citados ocorreram poucas vezes e mais frequentemente no início do jogo, principalmente na parte da vila.

Som e localização

A Capcom vem acertando bastante em suas trilhas sonoras e com Resident Evil 4 não foi diferente. Possui ótimas músicas, principalmente contra os chefes e momentos mais frenéticos. Infelizmente como nem tudo é flores, e assim como a maioria dos problemas, na primeira parte do jogo contamos com a ausência da trilha sonora em alguns momentos, ficando apenas com o som ambiente e os efeitos sonoros. Que diga-se de passagem estão ótimos, mas se não trabalharem em conjunto com a música, de nada adiantam.

Como experiência única para os donos de PlayStation, há diversos sons que o controle emite, como engatilhar a arma, seu telefone tocando, o abrir da maleta e alguns outros bem satisfatórios. O led do controle também muda de cor de acordo com sua condição, ou seja, se ela está boa, luz verde, caso contrário, luz vermelha.

Assim como Village, Resident Evil 4 conta com uma localização completa em nosso idioma, com interfaces, legendas e dublagem. Além de Felipe Grinnan confirmado como Leon, o elenco conta com nomes de peso como Leonardo Camillo (Ikki de Fênix – Cavaleiros do Zodíaco/ Bruce Willis e Pierce Brosnan – Diversos Filmes), Marcelo Campos (Trunks – Dragon Ball Z e GT/ Edward Elric – Fullmetal Alchemist/ One Piece – Zoro 1ª voz e Ace), Cássia Bisceglia (Yukio – Wolverine Imortal/ Rachel 2ª voz – Friends/ Ingrid Hunnigan – Resident Evil: Condenação), Carlos Seidi (Seu Madruga – Chaves/ Palhaço Krusty – Os Simpsons, uma das muitas vozes), entre outros mais e menos conhecidos.

Ficou muito boa a localização, minha ressalva é apenas para o dublador do Krauser, Dláigelles Silva. É um ótimo profissional, mas infelizmente sua voz não combinou com o personagem.

As opções de acessibilidade estão ótimas também, algo que já havia sido bem executado em Village. Além de diversas outras opções para áudio, câmera, exibição e etc. Um pacote completo.

No mais, Resident Evil 4 sofre de um problema grave de jogos das “duas atuais” gerações, letras muito pequenas para a interface e demais escritas que não sejam legendas, que há seleção de tamanho. Mesmo em TVs grandes e com bons óculos fica difícil de ler algumas coisas.

Conclusão

Felizmente a Capcom conseguiu corrigir diversos erros que haviam em suas duas reimaginações anteriores, deixando Resident Evil 4 mais perto do Remake do que apenas uma versão adaptada de maneira não tão convincente. Graças a isso, ele consegue entrar no mesmo hall de Resident Evil (2002), melhorando, expandindo e ainda assim mantendo sua essência, podendo de fato ser chamado de Remake.

Ele mescla o novo com o nostálgico para agradar a maioria dos fãs. Tem uma campanha maior que o original e um bom fator replay também. Provavelmente se manterá como o jogo mais popular e aceito entre a comunidade e até mesmo fora dela.

O jogo foi analisado no PlayStation 4 em cópia digital cedida pela Capcom Brasil. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo e sim do autor da análise.


Análise em vídeo

Além do PlayStation 4, um outro integrante da Equipe REVIL avaliou a versão de Resident Evil 4 para PlayStation 5. A análise em vídeo leva em consideração a média de notas dos dois conteúdos textuais. Assista:

Pontos positivos:
Boa jogabilidade;
Faca e suas multifacetas;
Melhora e expande o original;
Side Quests;
Ótima localização;
Personagens mais carismáticos.
Pontos negativos:
Capítulos curtos, mas jogo arrastado;
Modo furtivo desnecessário;
Lanterna não é manual;
Alguns momentos sem trilha sonora;
Falta dos modos extras;
Fornecimento de munição desbalanceado.
8