Arte: Frank Alcântara

Mudanças em Resident Evil e a onda de REmakes

Um novo remake de Resident Evil vem aí, surfando na onda das mais recentes releituras da franquia e com o uso da tecnologia RE Engine, criada pela Capcom. Confira neste artigo um vislumbre sobre a trajetória de RE, desde o clássico de 96, mudanças e a onda de REmakes. Motivados pelo desejo dos fãs, desenvolvedores tem se empenhado em atualizar o mundo survival horror. O mais recente jogo no horizonte com Leon S. Kennedy, Resident Evil 4 Remake, prova que há interesse em certas modificações de ambientes já conhecidos entre a comunidade.

O nascimento do Mal Residente

No ano de 1996 a CAPCOM, uma empresa que até então havia conquistado fãs de arcade e consoles com Street Fighter, se aventurou no terror de sobrevivência e não só bebeu de fontes como Alone in the Dark e Sweet Home, mas também contou com a criatividade e visão de ninguém menos que Shinji Mikami, hoje uma lenda do survival horror que estava iniciando seu caminho de sucesso no gênero. Ele é amado até hoje por fãs tanto da franquia Resident Evil, quanto por de outros títulos criados por Mikami Sensei.

Com fortes referências de seus antecessores e a visão de Mikami, Resident Evil 1 nos fez embarcar em um roteiro totalmente inspirado em filmes B da época, trazendo todo o tipo de clichê e oportunidade pra cenas épicas e com os diálogos mais cafonas que poderíamos ter, resultando em um sucesso tão grande, que mesmo não havendo planos pra uma sequência, era impossível resistir a tentação de continuar a história de uma grande conspiração envolvendo um vírus mortal o qual transformava em zumbis e as criaturas mais medonhas, aqueles por ele infectados.

 

A premissa para dar continuidade a história se fez possível pelo fato da Umbrella ser uma empresa farmacêutica de fachada, sendo assim, justificável que se tratava de uma grande rede de ricos e poderosos com fundos e recursos para produzir armas biológicas por todo o globo, expandindo a história e o número de títulos ao longo dos anos.

Essa expansão da série se deu pelo enorme sucesso do primeiro título que marcou toda uma geração de jogadores e deu espaço ao estilo até então pouco explorado pelas produtoras de jogos e com esse nível de qualidade. Contudo, com o passar do tempo a CAPCOM viu em Resident Evil a oportunidade de agarrar o mercado inserindo nos títulos seguintes cada vez mais elementos de ação e se distanciando, jogo por jogo, das raízes da série e elementos que os fãs jamais deixaram de amar.

O resultado dessa mudança drástica no estilo foi um dos fatores de maior impacto em parte da comunidade, uma vez que se tornava cada vez mais difícil reconhecer os novos títulos como horror de sobrevivência ou mesmo como um Resident Evil.

Embora Resident Evil 4 seja um dos pontos mais marcantes para série no que diz respeito a mudanças de gameplay, câmera e enredo, muitos títulos foram lançados entre Resident Evil 1 e RE4, desde PlayStation 1 e PS2, DreamCast, Nintendo Gamecube e até mesmo para um Game Boy com Resident Evil Gaiden.

Embora a Capcom já tivesse experimentado novas mecânicas e propostas tanto em títulos spin-offs quanto nos do enredo principal, Resident Evil 4 viria a ser o jogo onde o pai de Resident Evil, Mikami sensei, criaria uma baita jogo pra alguns, mas que para outros representaria o início do fim do survival horror na série. Também foi o último título da série com envolvimento de seu criador.

Contando com a presença dos já conhecidos: Leon S. Kennedy, Ada Wong e Albert Wesker, RE4 trazia uma nova visão de câmera em terceira pessoa e abandonou de vez a câmera fixa. Esse tipo de visão proporcionava vantagens de amplitude e preparo para grandes hordas de ganados, os novos “zumbis”, e por consequência os locais e cenários passaram a ser mais abertos perdendo totalmente aquela sensação de claustrofobia e puro desespero ao desbravar os aterrorizantes corredores da Mansão Spencer.

No lugar de poucos recursos de cura e munição, os inimigos agora davam drops que iam desde munições, itens de cura e até mesmo Platas, a moeda local, um recurso que inclusive tinha relação com outra mecânica inédita nos jogos principais da franquia: a melhoria das armas, compra de expansão de inventário e uma rocket launcher são apenas alguns exemplos do que o mercador misterioso nos oferecia durante toda a jornada do game, em diferentes localizações dos cenários. A progressão do jogo afetava também os itens da loja. A coleta de jóias e itens colecionáveis rendiam uma grande valor em platas e também acabou sendo uma modalidade repetida em mais títulos seguintes, essa a de caça aos tesouros.

Outra mudança que envelheceu mal e demorou pra ser notada como nociva para a experiência de jogo foram as inúmeras boss fights acontecendo a cada instante e envolvendo cutscenes monótonas e que não adicionam em nada à história ou na diversão das jogatinas. Em RE4 nota-se um aumento de boss fights e inimigos poderosos, mas isso é feito de um modo interessante e cativante para cada novo inimigo que pode ou não ter parte de sua origem revelada em files, que continuam presentes até hoje na série.

Outro ponto controverso foi o rumo da história e mesmo o próprio vírus que antagoniza nosso heróis de penteado estiloso. Embora Las Plagas tenham um conceito dentro da própria lore de RE e ao meu ver, tenham sido muito bem utilizadas para a criação de diversos inimigos, a necessidade de grandeza e proporções globais à cada título da série levou isso pra outro lugar e conseguiu tornar tosco, um elemento de uma série inspirada em filmes B dos anos 90, sabe?

Agora que Resident Evil não contava mais com a direção de Mikami. O quinto título numerado da série pegou total carona nos jogos de ação. O título implementou o sistema de co-op que acabava por tirar toda a tensão de estar sozinho contra todas as criaturas medonhas do local. O jogo se passava em locais bastante ensolarados e sem nenhum elemento de terror, o qual foi substituído pela adrenalina de enfrentar inúmeros inimigos com armamentos de guerra à disposição.

Embora um jogo muito divertido, Resident Evil 5 oficializava a nova era e, em 2012, 3 anos após o lançamento de RE5, era chegado o momento de contemplarmos a promessa de retorno ao horror, mas dessa vez diferente: dramatic horror! Resident Evil 6, com 3 campanhas distintas porém interligando uma mesma história. Nemesis agora tem um primo chamado Ustanaki, Ada Wong agora era também a mulher de azul, clones, vírus C, tiranossauros metamorfos, explosões, romance, explosões!

RE6 quis abraçar tudo que tornou a franquia tão amada, mas apenas repetindo de forma monótona cenas e momentos marcantes dos primeiros títulos, mas que não pareciam ter o mesmo efeito ou peso, não conseguindo agradar aquela parte dos fãs que tanto esperavam pelo retorno aos sentimentos de terror dos primeiros jogos.

As avaliações foram abaixo do esperado até então para um título da série. Umbrella Corps também foi outra baixa nas avaliações dos fãs e escancarou a crise de identidade que uma série que encaminhava para seus 20 anos de existência. A CAPCOM então precisou refletir e tomar uma decisão sobre Resident Evil. Dali em diante, os fãs foram ouvidos e muito se reconsiderou diante dos resultados dos títulos anteriores, sendo assim, necessário um recomeço pra série. Um renascimento do mal residente!

Na E3 de 2016, a CAPCOM revelou o novo título numerado da série: Resident Evil 7. Em um trailer com uma música sinistra e imagens perturbadoras, o terror podia ser sentido no arrepio dos braços ao ver as imagens pela primeira vez.

 

Com um novo motor gráfico construído do zero e dando total liberdade pra eviscerar e detalhar cada desmembramento, o pesadelo na Louisiana era rico em detalhes e nos forçava goela abaixo uma sensação de total vulnerabilidade e escassez de meios para sobreviver.

Locais grandes e claros foram substituídos por locais apertados e fechados, com a presença de pouca luz, até mesmo a sombra de uma manequim perdido pode arrepiar a espinha ao virar um corredor. O cenário é complementado pela família residente, a qual adota com muito amor o protagonista do jogo e constantemente o lembra do porque ter sido uma péssima ideia acreditar na mensagem misteriosa de Mia Winters, sua esposa desaparecida, enquanto adentramos os limites da propriedade dos Bakers.

Com a volta da escassez de recursos, pouco espaço em inventário o qual só era possível aumentar caso encontrássemos mochilas especiais no decorrer do jogo, inimigos persistentes e aparecendo quando menos se espera, puzzles e uma história envolvendo surto biológico, a CAPCOM parecia ter entendido de vez o recado da comunidade, que podia ver novamente esperança para o futuro da série.

Enquanto RE7 tinha seus momentos de glória, a CAPCOM continuava a trabalhar em um novo título que ao ser lançado em janeiro de 2019, traria de vez RE pros holofotes: Resident Evil 2 Remake. Com um trailer aterrorizante e gráficos de cair o queixo, embora tenha sido decidido mudar elementos como a câmera fixa e partes da história, tal qual o Resident Evil Remake, a reimaginação do segundo título da série trouxe muitos elementos amados pelos fãs de um modo moderno e bonito aos olhos, iniciando então, uma onda que até hoje a CAPCOM está surfando: os REmakes.

Resident Evil REMAKE e Resident Evil 0 HD Remaster já tinham dado um pequeno vislumbre da paixão dos fãs da série pelos títulos mais antigos e como parte da comunidade clamava por ter uma experiência renovada dos títulos do passado, mas com todo o poder de fogo das gerações mais atuais. Com isso, seguindo uma jogada ousada, a CAPCOM anunciou no mesmo ano de lançamento de RE 2 Remake, a reimaginação do terceiro título da série: Resident Evil 3 Remake em conjunto do jogo co-op online Resident Evil Resistance.

Com a aposta de produzir o jogo com a subsidiária K2 Inc e assistência da M-Two, a CAPCOM deixou a cargo de desenvolvedores não tão experientes um título muito amado e que, por consequência, faltou em muito com as expectativas dos fãs, gerando assim dúvidas sobre a confiança recém reconquistada pela CAPCOM. Seria este o revés dos REMAKES? Estaria a série fadada a repetir os mesmos erros do passado pensando mais no lucro pelo baixo orçamento de produção em uma reimaginação tão aguardada, do que no carinho dos fãs pela mesma?

A resposta para essa pergunta pode ser respondida com: ¡Detrás de tí, imbécil!

Muitos rumores envolvendo o remake de títulos passou a circular nas redes e, embora muitos fossem repletos de detalhes, a maioria não passava de especulação, até o dia em que o trailer de Resident Evil 4 Remake foi lançado.

 

Com um tom obscuro e muito mais gore, o remake promete entregar uma experiência muito mais profunda e visceral levando ao extremo o terror de estar preso em um vilarejo repleto de moradores locais armados com machados, foices e serra elétrica.

Com o deslize de Resident Evil 3 REMAKE e sob o risco de perder a confiança dos fãs novamente, tenho grandes expectativas paro o que o futuro reserva para Leon e companhia no novo título que tá logo aí no finalzinho de março.

E vocês, ansiosos?

Colaborou com a revisão, imagens e com a introdução deste artigo: Ricardo Andretto