Arte: Frank Alcântara

Análise – Resident Evil Village (Xbox Series S)

Resident Evil Village chegou com a proposta de ser uma continuação direta do excelente RE7 e, ao mesmo tempo, prestar homenagem ao tão amado e divisor de águas Resident Evil 4. Mas será que Village consegue entregar toda a tensão e ambiente de seu antecessor e ainda agregar a ação encontrada em RE4?

No XBOX

Esta análise foi feita em um console Xbox Series S e um dos objetivos é falar da experiência nos consoles da Microsoft. Por isso, vamos começar pelas peculiaridades deste console. Importante dizer que a experiência é uma das melhores possíveis, o jogo roda em 60fps liso, sem Ray-Tracing e com um frame rate variável. Quando ativamos o famoso traçado de raios, o game realmente fica mais bonito com este recurso, mas nada muito absurdo de diferente – usá-lo ou não vai depender muito do que você, que está jogando, valoriza, seja os gráficos ou a fluidez do gameplay.

Mas devo dizer que depois de me acostumar com 60 fps, fica difícil jogar de outra forma.

O gráfico do game é lindo em qualquer modo que escolhi e passei por pequenos pop-ins de textura praticamente imperceptíveis. O jogo travou duas vezes por cerca de 10 segundos em minha jogatina, mas não chegou a parar de funcionar, apenas travou e depois continuou normal.

O recurso do Quick Resume é inconstante neste jogo em específico, pois, em alguns momentos, mesmo tirando o console da tomada, quando voltava pro game, o mesmo já começava do momento exato em que parei. Entretanto, na maioria das vezes a função não pegou e tive que abrir o game desde o início, nada muito desconfortável, pois os tempos de loading são praticamente inexistentes. Mas é curioso, já que outros títulos de Xbox fazem essa função muito bem como, por exemplo, o jogo The Medium.

No geral, a experiência foi muito boa.

Exploração e Ambientação

UMA VILA NA EUROPA (Já vi isso em algum lugar…)

Resident Evil Village não esconde suas fortes inspirações em RE4: a busca do nosso protagonista por uma garota em uma vila europeia que parou no tempo não é exatamente uma premissa nova na franquia.

Enquanto Resident Evil 4 é um jogo linear, em Village o gameplay flui em torno da Vila com muito backtracking. Os desenvolvedores já haviam dito que a Vila seria praticamente um personagem na história e é exatamente isso que temos. Todos os caminhos que abrimos eventualmente nos levam de volta às casas abandonadas e nevadas. E a cada nova ferramenta ou habilidade que vamos adquirindo, um novo mistério do cenário nos é revelado.

Apesar de termos o Castelo Dimitrescu, que é maravilhoso por si só, a vila é a verdadeira “mansão” deste jogo. É um ambiente vivo que se modifica conforme avançamos na história e vai nos trazendo diversas surpresas que, na maioria das vezes, não serão agradáveis ao nosso protagonista. Não acredito que o visual desta vila ficará tão marcado nos fãs da franquia quanto o vilarejo de RE4, mas é muito competente no que tenta fazer. Imagine sentir medo, dúvida, dor e desespero e ainda ter as meias molhadas no inverno, Ethan Winters é realmente casca-grossa.

No geral, a vila tem um visual muito semelhante em suas áreas abertas, mas cada local dos 4 lordes: Alcina Dimitrescu, Donna Beneviento, Salvatore Moreau e Karl Heisenberg, tem um visual único e carrega a identidade de cada um deles. Uma dessas 4 áreas é claramente o ponto mais fraco do jogo, comparado com o resto do pacote, esta área em específico deixa bastante a desejar.

Village acerta em cheio na exploração de seus ambientes. Cada pequeno local novo desbloqueado vem com uma sensação de conquista e descobrimento, somos recompensados seguidamente por explorar e vencer alguns chefes opcionais: seja com novas informações sobre a história ou o passado da vila através dos files, seja pelos tesouros que encontramos e depois podemos trocar por um suado dinheirinho com o Duque ou pelas armas novas. Ah, fiquem atentos e explorem cada canto, caso contrário, é bem possível que deixem algumas armas importantes pelo caminho.

Gameplay

O baú não conseguiu retornar de Resident Evil 7. Entretanto, temos aqui o sistema de inventário igual ao de Resident Evil 4. Porém, a Capcom fez algo que tirou um pouco da necessidade de ficarmos gerenciando os itens como fazíamos em RE4. Por exemplo, com os itens de cura.

Como só existe uma forma de se curar nesse game, a famosa erva verde não vai para “dentro” da maleta, ela fica separada na aba de misturas, onde podemos craftar munições, bombas, minas e o líquido de cura. Como estes itens ficam separados dos demais, dificilmente vamos nos encontrar precisando arranjar espaço no inventário. Na minha experiência, eu comprei todas as expansões da maleta e só precisei “fazer espaço” quando peguei o Rifle. No fim, acabei mexendo no inventário para lá e pra cá puramente pelo prazer de organizar a maleta, mas nunca precisei de verdade.

Infelizmente, isso tira um pouco da tensão do game, pois não precisamos tomar uma decisão importante como deixar um item ou arma para trás na busca de mais espaço para suprimentos mais importantes. O mesmo pode ser dito dos itens chave do jogo que também ficam separados do espaço real do inventário. Essa decisão é curiosa, pois acabou facilitando o jogo.

Com relação à dificuldade, este é um dos games da franquia mais fáceis no modo padrão. Poderia contar nos dedos o número de vezes em que morri. Os Puzzles estão presentes, mas não são difíceis o suficiente para que o jogador possa ficar “travado” em uma parte. Jogar no modo Intenso é a melhor maneira de se ter a primeira jornada, na qual seremos realmente desafiados a pensar da forma mais estratégica. Se for jogar buscando um desafio real, sugiro que jogue sua primeira vez no Intenso.

Os inimigos, por sua vez, dão um show à parte. Mesmo que a dificuldade não fosse a mais desafiadora, os adversários se mostraram bem amedrontadores. Os Licanos são inimigos muito interessantes e, assim como os zumbis das duas últimas reimaginações da Capcom, são imprevisíveis em seus movimentos. Com certeza farão todos errarem diversos tiros na cabeça.

Um ponto que me surpreendeu positivamente foi a DUBLAGEM. Finalmente temos um jogo da saga totalmente localizado para a nossa terra e o resultado é bem impressionante. O trabalho é de primeira linha, não deixando nada a desejar para a versão americana que era o que costumávamos utilizar. Na verdade, foi graças à dublagem do Raphael Rossatto que o nosso protagonista Ethan finalmente demonstra mais a sua personalidade e seu jeito esquentadinho. A localização das falas é praticamente perfeita, e não notei grandes discrepâncias na tradução.

Desta vez, uma das grandes reclamações referentes a Resident Evil 7 foi sanada em Village, pois temos uma boa variedade de inimigos o que nos desafia a mudar um pouco nossa forma de abordá-los na hora de atacar. E os chefes opcionais são um belo desafio fora da história principal do game.

História

Por falar em história, não espere que Resident Evil Village seja a grande conexão desta nova saga com os games anteriores. Com certeza temos ligações maiores com personagens mais antigos da franquia, mas tudo de forma superficial e até mesmo como curiosidade, nada que afete de verdade a trama do game.

Essa ainda é uma história da família Winters.

E neste jogo Ethan finalmente brilha como um protagonista determinado a resgatar sua filha e a conquistar seu espaço na franquia. Temos um personagem que reage a todas as bizarrices que são jogadas nele e é extremamente cabeça quente. Não posso negar que dava uma satisfação quando ele retrucava um monstro que parecia poder devorá-lo em segundos. Se em RE7 ele parecia quase que indiferente aos acontecimentos, em Village ele está totalmente envolvido com a causa.

Assim como em RE7, os “chefes” principais são muito bem escritos e geram certa empatia nossa por suas vidas sofridas, afinal eles foram inspirados em monstros que também tem um lado humano. Como os amaldiçoados vampiros, lobisomens e até mesmo o Frankenstein. Fiquem calmos, como muitos de vocês já devem saber tudo é devidamente explicado e nada é sobrenatural, mas lógico que também vai depender de cada um aceitar ou não “explicação” dada a certos poderes dos inimigos.

Sem spoilar muito da história, posso dizer que é uma das mais interessantes da franquia nos últimos anos, realmente abrindo caminho para o novo. O rumo que as coisas tomam ao final abre possibilidades muito interessantes e ao mesmo tempo preocupantes, tudo vai depender de como vão abordar os temas criados em Village em um possível RE9.

Temos mais perguntas do que respostas, mas podemos dizer que o arco criado em RE7 foi fechado com sucesso, enquanto prepara o terreno para outros games da franquia.

Extras e Mercenários

Ao terminarmos o jogo, temos diversas coisas para serem liberadas na já tradicional loja in game, onde podemos trocar os pontos obtidos durante a nossa campanha por conteúdos extras. E devo dizer que aqui a Capcom acertou muito a mão e tem muitas informações interessantes a serem lidas nas artes conceituais. Considerem ler com muita atenção pois pode trazer um entendimento maior da trama e de possibilidades descartadas.

Mas, lógico que o conteúdo extra que mais chama a atenção é o já conhecido modo Mercenários que faz seu retorno de forma levemente diferente. Desta vez, só podemos jogar com Ethan, mas o mesmo pode montar seu arsenal com o Duque antes de cada partida, fazendo com que o jogador possa abordar o minigame com o estilo de jogabilidade que mais o agradar. É uma pena que não possamos jogar com o Chris Redfield, Mia Winters ou qualquer outro personagem surpresa, mas também compreensivo, pois afinal a câmera é em primeira pessoa e não podemos ver o personagem mesmo.

Mesmo com a nova mecânica de habilidade que podemos recolher pelo nível, ainda parece ser uma sombra do modo que já foi. O modo também não conta com multiplayer, muito provavelmente para não concorrer com o futuro lançamento de setembro o Resident Evil Re:Verse. Se essa foi a decisão certa, só o tempo dirá.

Veredito

Resident Evil Village traz o que de melhor a franquia tem a oferecer, com um equilíbrio quase perfeito entre o horror de sobrevivência e a ação. A exploração dos cenários pode levar a muitos sustos e também a inúmeras recompensas, trazendo uma sensação única de conquista. O final intrigante fecha de forma épica um arco ao mesmo tempo que levanta muitas dúvidas para o futuro e abre portas para novos ares na franquia.

A câmera em primeira pessoa pode atrapalhar algumas pessoas que se sentem desorientadas com essa perspectiva, mas não diminui em nada a qualidade deste grande game da saga.

Village tem diversos elementos da franquia misturados em um só game e apresenta novos caminhos interessantes para o futuro da série milionária da Capcom.

O jogo foi analisado no Xbox Series S em cópia digital cedida pela Capcom Brasil. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo, e sim do autor da análise.

Revisão do texto: Natália Sampaio

Confira as outras análises de Resident Evil Village no REVIL:

Análise – Resident Evil Village (Xbox Series S)
Pontos positivos
Exploração;
Gráficos;
Inimigos;
História diferente e que abre caminhos novos;
Level design.
Pontos negativos
Pouco desafio no modo padrão;
Alguns travamentos;
Puzzles fáceis demais;
Mercenários aquém do esperado.
8.5