Em meio a tanta disponibilidade de jogos, consoles, plataformas e desenvolvedoras, é notório o crescimento anual da Capcom diante de seus concorrentes. E podemos dizer que a marca Resident Evil, que abrange todo e qualquer produto multimídia da franquia, possui um papel fundamental nesse processo. Ocorre que tal estratégia impacta na produção e lançamento dos jogos. Não entendeu? Vou explicar por meio deste artigo.
Desde 2016, a Capcom possui uma estratégia de crescimento contínuo a partir de um portfólio estável de suas marcas principais, sendo Resident Evil, Monster Hunter e Street Fighter as principais delas. A empresa reduziu o ciclo de vendas* dos títulos que até então eram de 3 a 4 anos, para 2 anos a 2 anos e 6 meses.
Essa estratégia passou a impactar diretamente a série Resident Evil, uma vez que um título da série pode ser trabalhado durante 2 anos, tornando assim quase que um título anual.
*Ciclo de vendas englobam a produção, distribuição e incentivo para compra com maior destaque após um lançamento – depois disso, o produto entra em “catálogo”.
Essa estratégia da empresa foi confirmada em julho deste ano durante a divulgação do longa em computação gráfica Resident Evil: Death Island (Resident Evil: Ilha da Morte, ainda não lançado no Brasil). Na ocasião, o produtor da Capcom, Masao Kawada, afirmou em uma entrevista para Denfaminico Game que a razão de haver tantos lançamentos de produtos de RE – como, por exemplo, filmes e série até série de animação Netflix (Resident Evil: No Escuro Absoluto) – se dá por causa da política da empresa. “[…] por causa da política da empresa, a marca é forçada a lançar um ‘Resident Evil’ todo ano, ou o tanto quanto possível”, afirmou Kawada.
Durante a entrevista, o produtor Masao Kawada ainda dá novas informações sobre a série, mas, por enquanto, vamos se ater a essa explicação. Enquanto isso, vamos recapitular.
Um “Resident Evil” por ano é real, mas não da forma como a comunidade imagina
Resident Evil 2 (2019) e Resident Evil 3 (2020) são títulos que tiveram estratégias de lançamento distintas, mas que fizeram parte do mesmo escopo de desenvolvimento. Sabemos também que neste processo, o RE2 remake foi um sucesso de vendas e, apesar de ter desagradado parte da comunidade, RE3 remake vendeu bem. A questão é, após Resident Evil 7, este foi o primeiro calendário de lançamentos contínuos a partir da estratégia da Capcom, e apesar dos pesares, o primeiro conteúdo anual da saga em anos.
Vendo por essa perspectiva, Resident Evil 3 talvez não teve o mesmo tratamento necessário com a sua fonte original por justamente não se tratar de um título completamente novo e sim, um conteúdo adicional ao universo já apresentado por Resident Evil 2 – tanto que surgiu o “Raccoon City Edition” com os dois títulos. Além do mais, o lançamento de Jill Valentine segue à risca o calendário anual de lançamentos.
Não entendeu? Então vamos ao nosso segundo exemplo, Resident Evil Village e sua Gold Edition. O oitavo capítulo da série chegou em junho de 2021, concretizando assim, mais um título anual da franquia. Mas, após tantos lançamentos, qual seria o próximo? É aí que está a questão, pois, Resident Evil Village Gold Edition chegou no ano seguinte, em outubro de 2022, concretizando assim mais um conteúdo anual.
Olhando por esse lado, podemos perceber que não apenas se tratam de novos títulos, mas também de, como as DLCs e novas edições podem ser trabalhadas como novos ‘títulos’. Com esses novos conteúdos é trabalhar outros lançamentos multimídias a partir do próprio calendário dos games.
Resident Evil Village, Resident Evil: No Escuro Absoluto e Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City fizeram parte do mesmo ano, em 2021. Resident Evil Village Gold Edition, Resident Evil: A Série (Netflix) e o pacote digital de RE7, RE2 e RE3 para o Nintendo Switch em 2022.
Agora, em 2023, tivemos Resident Evil 4, histórias em quadrinhos de Resident Evil: No Escuro Absoluto e, também, o filme Resident Evil: Death Island.
Essa estratégia significa que a empresa sabe que possui propriedades intelectuais poderosas e populares, e utiliza do uso múltiplo de conteúdo para maximizar a percepção do público a partir de seus produtos nos games. Então, temos um lançamento nos consoles que será acompanhado de outros em diversas mídias, e este mesmo título poderá ser trabalhado em até dois anos, sendo tratado como uma DLC ou uma nova edição. Mas não deixará de ser anual, ou melhor, um Resident Evil anual. Essa política interna permite que o portfólio alcance uma maior rentabilidade e diversificação de receitas e riscos.
O produtor Masao Kawada, durante a mesma entrevista, afirmou que achava a Capcom gananciosa, mas que, “felizmente, não apenas os títulos numerados, mas também os remakes, tiveram uma resposta positiva”, não explicando ao certo que resposta seria essa. Seria a aprovação do público? Ou a resposta positiva de um novo jogo? Não sabemos.
Separate Ways ainda em 2023?
Portanto, neste momento, deixo os fatos e a investigação de lado para fazer uma suposição. Dado os últimos lançamentos, acredito que um novo conteúdo para os games somente será lançado ano que vem, ou seja, Resident Evil 4 Deluxe (ou uma Gold Edition) e Separe Ways ganhariam tratamento de “novo título” em 2024, corroborando a estratégia traçada pela Capcom em 2016.
- Leia também: Novas conquistas para Resident Evil 4 (2023) chegam “ocultas” no Steam e fãs especulam sobre DLC
Mas reforço, e gostaria de destacar, a afirmação acima é uma suposição feita por mim a partir de uma análise de relatórios de expansão de negócios, falas e calendário de lançamentos, portanto, posso estar equivocado. A questão é que, dentro do arsenal de novidades, Resident Evil possui uma gama de lançamentos anuais, tendo os games e DLCs como o ponto principal de partida. As parcerias, mobile, pachinko (os caça-níqueis japoneses), livros, filmes e séries, são ramificações daquele determinado ponto.
Resident Evil Revelations 3 poderá ser o próximo título anual da franquia?
Dado as explicações acima, eis que o mais um Resident Evil possa surpreender, não apenas pelo seu anúncio, mas como também pela sua plataforma de lançamento, um provável novo hardware da Nintendo. Seria a vez de um Switch 2 e um Resident Evil Revelations 3 com a Rebecca Chambers?
De acordo com o site Video Games Chronicle, protótipos do novo console ainda não anunciado já chegaram a estúdios parceiros da Nintendo. Além disso, para corroborar ainda mais as notícias, o portal de finanças Money Dj sinalizou a Hangzhou, fabricante de componentes da Nintendo, como uma das empresas de atrativos e investimentos para ficar de olho no próximo semestre. De acordo com fontes privadas da indústria e da VGC, o sucessor do Switch chegará na segunda metade de 2024.
A Nintendo e a Capcom possuem um longo histórico de lançamentos, até então exclusivos – até alguém perder a cabeça -, principalmente no que se diz a respeito de Resident Evil, e não seria uma surpresa ter um título spin-off no mais novo console. Porém, ao olhar para os lançamentos em si e a parte técnica, fica difícil prever qualquer futuro lançamento.
Em um artigo para o site Complete Global Saturation, o autor Alex Aniel reflete:
“(…) Que tal um RE exclusivo do Switch 2, semelhante aos títulos originais de Revelations ou Chronicles? Acho que esta opção é a menos provável neste momento. Com poucas exceções, a Capcom agora é em grande parte uma editora independente de plataforma que oferece suporte a todos os consoles possíveis, desde que o caso de negócios faça sentido. (…) Não vejo muitos benefícios para a Nintendo ter exclusividade para um RE não numerado, a menos que a Nintendo pague por sua promoção”.
Os questionamentos levantados por Alex Aniel fazem coro com a política atual da empresa em relação a disponibilidade e lançamentos. Caso algum Revelations 3 for lançado no ano que vem, devido a limitação do console e o calendário, o título poderia receber um tratamento menor, já que uma possível DLC de RE4 (2023) ganharia destaque e investimento de promoção. Assim como o próprio produtor da série colocou, a empresa é gananciosa.
Resta agora saber com que força a Capcom dará esses passos, já que sabemos com qual frequência ela dá.
Colaborou com a revisão deste conteúdo: Ricardo Andretto